domingo, 26 de junho de 2016

Fichamento: "A Interpretação dos Sonhos" de Sigmund Freud. Cap 06

Considerado o maior trabalho de Sigmund Freud (1856-19390), "A Interpretação dos Sonhos" é o livro que inaugura a era da psicanálise. Neste estudo, o Mestre de Viena apresenta uma instância da mente que era,até então, ignorada: o inconsciente. Esse pressuposto foi o estopim de uma revolução teórica que permeou o debate sobre o comportamento humano no século XX.
(P.159) Cap. VI: O trabalho dos sonhos.
Todas as tentativas até hoje feitas de solucionar o problema dos sonhos tem lidado diretamente com seu conteúdo manifesto, tal como se apresenta em nossa memória. Freud é o primeiro a levar algo mais em consideração.
(P.160) Freud introduz uma nova classe de material psíquico entro o conteúdo manifesto dos sonhos e as conclusões de sua investigação: a saber, se conteúdo latente, ou também chamado de “pensamentos do sonho”, obtido por meio de seu método.
É desses pensamentos dos sonhos, e não do conteúdo manifesto, que depreendemos seu sentido.
(A) O Trabalho de condensação.
A primeira coisa que se torna clara para quem quer que compare o conteúdo do sonho com os pensamentos oníricos é que ali se efetuou um trabalho de condensação em larga escala. Os sonhos são curtos, insuficientes e lacônicos em comparação com a gama e a riqueza dos pensamentos oníricos.
Se o sonho for escrito, talvez ocupe meia página. A análise dele pode ocupar sete, outo, dez vezes mais.
(P.161) E por mais bem interpretado que seja o sonho, nunca estará completo, pois é impossível determinar o volume de sua condensação.
(P.176) (B) O Trabalho de deslocamento.
Ao apresentar diversos exemplos de condensação nos sonhos, a existência de outra relação se mostrou evidente. Viu-se que os elementos que se destacam como os principais componentes do conteúdo manifesto do sonho estão longe de desempenhar o mesmo papel nos pensamentos do sonho. Em outras palavras, o que é claramente essencial ao pensamento do sonho não precisa, de modo algum, ser representado no sonho.
(P.178) Parece plausível supor que, no trabalho do sonho, está em ação uma força psíquica que, por um lado, despoja os elementos com alto valor psíquico de sua intensidade, e por outro, por meio da sobredeterminação, cria, a partir de elementos de baixo valor psíquico, novos valores, que depois de penetram no conteúdo do sonho. Assim sendo, ocorre um transferência e deslocamento de intensidades psíquicas no processo de formação do sonho, e é como resultado destes que se verifica a diferença entre o texto do conteúdo do sonho e dos pensamentos do sonho.
A consequência do deslocamento do sonho é que o conteúdo do sonho não mais se assemelha ao núcleo dos pensamentos do sonho, e que este não apresenta mais do que uma distorção do desejo do sonho que existe no inconsciente. Já vimos anteriormente o processo de distorção dos sonhos e agora sabemos que o deslocamento do sonho é um dos principais métodos pelos quais essa distorção é obtida.
(C) Os meios de representação nos sonhos.
No processo de transformar os pensamentos latentes no conteúdo manifesto de um sonho, vimos dois fatores em ação: a condensação e o deslocamento do sonho. À medida que prosseguimos encontraremos ainda dois outros fatores determinantes.
(P.179) Para Freud a construção, ou a elaboração de um sonho, destrói as conjunções que ligam as cadeias de ideias formadas no material do pensamento do sonho (conteúdo do sonho), e a restauração dos vínculos que o trabalho do sonho destruiu, cabem ao pro cesso interpretativo, daí a importância de se entender os meios de representação dos sonhos, que por si só são incapazes de representar as relações lógicas de si.
(P.181) Relações casuais ou casualidades: para representar relações casuais, os sonhos possuem dois procedimentos que são, em essência, os mesmos, ligados por uma ideia em comum.
Sonho introdutório e sonho principal: quando a ideia oculta que se deseja passar está dividida, porém ligada por esses dois tipos de sonhos, um completando e/ou afirmando a ideia oculta presente no outro.
(P.182) Muitas vezes, é como se o mesmo material fosse representado nos dois sonhos a partir de diferentes pontos de vista.
(P.183) Contrariedade: a maneira como os sonhos tratam a categoria dos contrários é altamente digna de nota. Ela é simplesmente desconsiderada. O “não” não parece existir no que diz respeito aos sonhos. O sonho utiliza de um mesmo elemento para simbolizar ideias e sentidos opostos e contrários.
(P.184) Relação de semelhança: conhecida como a relação “tal como”, essa relação consiste em criar elementos paralelos onde os que já estão presentes não conseguem penetrar de forma clara no sonho em virtude da censura imposta pela resistência. Dentre as maneiras de representação dessa relação estão à identificação e a composição. A identificação é empregada quando se trata de pessoas, já a composição, embora também se aplique a pessoas, é empregada quando as coisas são o material de unificação.
A semelhança é representada nos sonhos pela unificação, que pode já estar presente no material dos pensamentos do sonho ou pode ser novamente construída. A primeira dessas possibilidades pode ser descrita como “identificação” e a segunda como “composição”.
Identificação: na identificação apenas uma das pessoas ligadas por um elemento comum consegue ser representado no conteúdo manifesto dos sonhos, enquanto a segunda pessoa ou as demais pessoas parecem ser suprimidas dele, logo essa figura encobridora aparece no sonho em todas as relações e situações que se aplicam quer a ela, quer a figura que ela encobre.
Composição: quando a composição se estende a pessoas, a imagem onírica ocorre da seguinte forma, uma junção de trações das determinadas pessoas, cuja aglutinação forma um novo elemento, uma nova imagem onírica irreconhecível para o sonhador.
(P.185) Mas essas manifestações dessas pessoas nessa nova imagem formada não se limitam a forma visual, mas também a nomes, gestos e comportamentos conhecidos pelo sonhador em estado de vigília. Freud explica que algumas vezes esse tipo de composição é malsucedida e quando isso ocorre a cena no sonho é atribuída a uma das pessoas em causa, e geralmente a pessoa menos importante, enquanto a outra ou as outras pessoas aparecem como coadjuvantes em primeira vista, e são essas ou essa pessoa exatamente a mais importante.
(P.186) Identificação e composição no caso dos nomes próprios de localidades: nesse aspecto essas representações são as mais fáceis de serem identificadas, já que não há interferência por parte do ego. Estes mecanismos se utilizam de imagens compostas entre si que identificam algum elemento “desejante comum” do sonhador. Combinando traços de ambas as imagens em uma nova imagem, em um cenário que pode via a parecer absurdo.
(P.188) Freud disse anteriormente que os sonhos não têm meios de expressar a relação de uma contradição um contrário ou um não.
Justamente o inverso: confundem-se a princípio com a ideia da contrariedade, mas diferencia-se no sentido de não simbolizar ambiguidade como faz a contrariedade, mas sim de inverter e contorcer um desejo recalcado. Está é muitas das vezes a melhor maneira de expressar a reação de ego a um fragmento desagradável da memória. Além disso a inversão tem uma utilidade muito especial como auxílio a censura, produzindo uma distorção do material do sonho, quase o tornando incompreensível a interpretação. Identificar a inversão e distorção é um passo significativo para a interpretação do sonho.
(P.189) Intensidade e nitidez dos elementos do sonho: Freud explica que em um sonho quanto mais inteiro e /ou claro e intendo for um elemento, maior será o número de cadeias de ideias e maior será a importância daquele elemento, sendo determinante sua representação e interpretação. Mas adverte dizendo que devido à censura do ego, invariavelmente estes elementos nunca são o centro de um conteúdo manifesto.
(P.195) (D) Consideração à representabilidade.
Nesta parte Freud busca entender como nos sonhos sonhamos com coisas ou pessoas que na verdade representam outras coisas.
Onde alguns elementos simbolizam outros para poder escapar da censura. Geralmente este simbolismo é usado para disfarçar o conteúdo sexual dos sonhos.
(P.201) (E) Representação por símbolos nos sonhos – outros sonhos típicos.
(P.202) Já vimos que os sonhos usam símbolos para representar certas coisas. Segundo Freud alguns símbolos são “genéticos” e podem existir desde tempos imemoriais. A língua já mudou, mas o símbolo persiste em nossos sonhos.
Os sonhos se valem desse simbolismo para a representação disfarçada de seus pensamentos. E muitos símbolos podem ser habitualmente utilizados para expressar a mesma coisa.
(P.203) Os símbolos deixam a interpretação dos sonhos mais difíceis, pois a interpretação correta só pode ser alcançada, partindo-se do contexto.
Essa ambiguidade dos símbolos parte da “superinterpretação”, fenômeno do sonho onde num único conteúdo podemos encontrar desejos e pensamentos amplamente divergentes.
Mas em geral:
Rei e rainha representam mãe e pai.
Príncipe o próprio sonhador.
Armas, fuzis, adaga, punhais e todos os objetos alongados representam o pênis.
Caixas, estojos, arcas e todo recipiente representam ventre.
Subir e descer escadas representa o ato sexual.
De modo geral, tudo o que é pontiagudo simboliza o órgão sexual masculino, e tudo o que é oco e possui entradas o órgão sexual feminino.
(P.221) Uma vez entendido a importância do simbolismo, Freud divide os sonhos, grosso modo, em duas classes: os que realmente tem sempre o mesmo sentido e os que, apesar de terrem conteúdos idênticos ou semelhantes devem ser interpretados de maneira variada. Devemos levar isso em consideração durante a análise dos sonhos típicos.
(P.227) Freud levanta a questão de que a maioria dos sonhos dos adultos versa sobre material sexual e dá expressão a desejos eróticos. Isso se dá porque nenhum outro pulsão é submetido, desde a infância, a tanta supressão quanto o pulsão sexual. Gerando assim poderosos desejos inconscientes, prontos a produzir sonhos no estado de sono.
Contudo, devemos nos lembrar que apesar de importantes, os complexos sexuais não são exclusivos na formação do sonho.
(P.231) (F) Alguns exemplos – cálculos e ditos nos sonhos.
(P.234) Hanns Sachs (1911) “sabemos graças A Interpretação dos Sonhos de Freud, que o trabalho do sonho se vale de diferentes métodos para dar forma sensorial a palavras ou expressões. Se, por exemplo, a expressão a ser representada é ambígua, o trabalho do sonho pode explorar esse fato utilizando a ambiguidade como uma ponte de desvio: quando um dos sentidos da palavra está presente nos pensamentos oníricos, o outro pode ser introduzido no sonho manifesto”.
(P.242) (G) Sonhos absurdos – atividade intelectual nos sonhos.
No curso de nossas interpretações dos sonhos esbarramos tantas vezes no elemento do absurdo que não mais podemos adiar o momento de investigar sua origem e seu eventual significado.
(P.248) Um sonho se torna absurdo, quando o julgamento de que algo “é absurdo” figura entre os elementos incluídos nos pensamentos oníricos. Isto é, quando qualquer das cadeias de ideias inconscientes do sonhador tem por motivo a crítica ou a ridicularização.
O absurdo é um dos métodos pelos quais o trabalho do sonho representa uma contradição – juntamente com outros métodos como a inversão, no conteúdo do sonho, de uma relação material nos pensamentos oníricos, ou a exploração da sensação de inibição motora.
O absurdo num sonho destina-se a reproduzir o estado de ânimo dos pensamentos oníricos que combina o escárnio ou o riso com a contradição.
(P.263) (H) Os afetos nos sonhos.
Devemos dar atenção aos afetos que ocorrem durante os sonhos. “Se temo ladrões no sonho, é certo, são imaginários – mas o temor é real”. Mesmo vale para a alegria.
Um afeto experimentado num sonho não é inferior a outro igual sentido na vida em vigília. Porém em muitos casos não sentimos medo nos sonhos frente a acontecimentos horripilantes e sentimos medo de coisas banais.
Explicar isso fica mais fácil quando passamos do conteúdo manifesto para o conteúdo latente dos sonhos. Onde o material de representações passa por deslocamentos e substituições, enquanto os afetos permanecem inalterados.
O exemplo usado por Freud é o de uma moça que sonha com três leões e não sentiu medo. Isso porque os três leões representavam pessoas próximas a ela, entre eles seu pai.
(P.279) (I) Elaboração secundária.
Trabalharemos agora com o quarto fator implicante na formação dos sonhos. Prosseguindo de onde iniciamos (isto é, comparando eventos manifestos no conteúdo do sonho com suas fontes nos pensamentos oníricos).
(P.280) O que Freud tem em mente são casos em eu o sonhador fica surpreso, irritado ou enojado no sonho com algum fragmento do pensamento onírico. Em geral o sentimento crítico não se dirige ao conteúdo do sonho, mas ao pensamento onírico que está por trás dele. Mas se sem todos os sonhos decorrem dos pensamentos oníricos, pode haver um segundo elemento participando de sua elaboração.
Freud considera a censura como parte influente no sonho. Pois, quantas vezes enquanto sonhávamos não dizemos a nós mesmos “isso é apenas um sonho”. Ou seja, a censura não apenas barra conteúdos indesejados como também participa efetivamente do sonho.
(P.281) Ela preenche as lacunas da estrutura do sonho, deixando-o menos absurdo e incoerente.
(P.289) Então Freud chama a atenção para o que ele considera o quarto elemento constitutivo de um sonho: a elaboração secundária ou fenômeno de Silberer.
Elaboração secundária nada mais é que a modificação do sonho feito, feito pela censura, para que ele seja menos incoerente e menos absurdo.

*Lembrando que os quatro elementos constitutivos dos sonhos para Freud são: condensação, deslocamento, representação e elaboração secundária.
FREUD, Sigmund. Interpretação dos Sonhos. 1ª Ed. São Paulo. Folha de S. Paulo, 2010. P.159-290.

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