Observação
importante:
O presente livro de Paul
Strathern trabalha como uma espécie de biografia intelectual de Charles Darwin.
Mostrando como o meio em que viveu o autor de A Origem das Espécies foi fundamental para o pleno desenvolvimento
da teoria da seleção natural, e como esta se desenvolveu e amadureceu ao longo
dos anos.
Apesar de crer profundamente na
importância de conhecer a vida e os caminhos de Darwin para entender o meio que
possibilitou o surgimento de tal teoria, decidi não me ater a essa questão
biográfica por dois motivos: primeiro, existem uma infinidade de vídeos no youtube que trabalham com a discutida
biografia. Segundo, tentei deixar o texto mais curto e simples possível,
atendo-me somente à teoria da evolução das espécies, ajudando aqueles que
querem entender esta teoria e que possuem alguma dificuldade.
Boa Leitura.
Introdução.
Darwin foi com certeza um dos
poucos pensadores a subverter a noção de como nos vemos e o mundo que nos
cerca. Depois de Darwin, o homem deixou, para sempre, de ser uma espécie
privilegiada.
No século XVI Copérnico deu
inicio a uma revolução, tirando o homem do centro do universo, com a Terra
orbitando ao redor do Sol. Darwin aparece no século XIX para completar esta
revolução, mostrando como o homem era apenas mais uma espécie no processo
evolutivo – já não éramos mais o centro de nada.
Sobrevivência
do menos apto.
Nesta parte do livro tem inicio a
biografia de Charles Darwin, desde a sua infância, os mimos de suas irmãs mais
velhas, seu pai medíocre, seu avô influente (um dos primeiros evolucionistas),
suas mal fadadas tentativas de agradar seu pai – primeiro com a medicina depois
com a teologia –, sua viagem a bordo do Beagle, sua passagem pela América do
sul, sua épica visita às ilhas Galápagos, sua circunavegação do globo, sua
volta triunfante à Inglaterra, seu casamento com sua prima, o silencio de vinte
anos sobre sua teoria até sua publicação, etc...
Sabemos que Darwin viveu em um
período conturbado da história, período marcado pelo surgimento de novas ideias
que se contrapunham ferozmente à antiga maneira de pensar do homem europeu.
Muitos pensadores de sua época,
influenciados pela Bíblia, acreditavam que as espécies eram imutáveis, e assim
o eram desde a Criação – sem que novas espécies surgissem ou desaparecessem.
Outros como o francês Jean
Lamarck defendiam que os animais e plantas não eram estáticos, mas que
evoluíam. Segundo a teoria de Lamarck, era o meio ambiente e a relação dos
animais e plantas com ele que modificavam uma espécie. Por exemplo, a girafa
tinha pescoço comprido, porque durante gerações, tentara alcançar as folhas
mais altas. Isso levou Lamarck a pensar que “as características adquiridas são
herdadas”, ou seja, as habilidades desenvolvidas por uma geração podiam ser
transmitidas à próxima.
geologia (ciência emergente da época) acreditava-se que as características geográficas da Terra tinham sido formadas por rupturas súbitas e tumultuosas de grande magnitude. Cadeias de montanhas haviam sido impelidas aos céus de uma só vez em um enorme solavanco e, de tempos em tempos toda superfície da Terra era inundada. Essa corrente era conhecida como catastrofismo, e não contradizia a bíblia.
A bordo do Beagle, Darwin leu “Princípios de Geologia” de Charles
Lyell. O autor descordava dessa teoria. Sua suposição era de que as
características da Terra haviam sido formadas num processo longo e gradual. As
grandes características geográficas não surgiam de uma só vez, mas de maneira
lenta e sujeitas a longos processos de erosão e deposição.
A viagem de cinco anos ao redor
do mundo, a bordo do Beagle, foram
fundamentais para moldar a teoria de Darwin. Suas coletas, observações e
leituras haviam transformado um botânico amador em um pensador extraordinário.
Logo Darwin percebeu as
discrepâncias entre suas observações e o criacionismo ortodoxo. Da maneira como
era descrito no Gênesis, todo ser vivo havia sido criado por Deus e planejado
especificamente pelo criador para viver em um determinado ambiente. Ou seja, as
criaturas era imutáveis pois foram criadas por Deus, afrontar essa ideia era
afrontar a própria divindade.
Aos poucos, estudando mais a
fundo suas coletas, suas anotações de viagem e sua própria imaginação, Darwin
foi se convencendo que o mundo não era estático e estava em um eterno processo
de “devir”.
A guinada em seu pensamento, se
deu quando Darwin entrou em contato com a teoria de Thomas Robert Malthus.
Segundo ele a população cresceria em progressão geométrica (2,4,8,16...),
enquanto os meios de subsistência – principalmente alimentos – cresciam em
progressão geométrica (1,2,3,4...). Assim a população cresceria até o limite
suportado, quando seria então contida por doenças, fomes, guerras, etc..
Darwin já possuía amplo
conhecimento sobre a luta pela sobrevivência nos reinos vegetais e animais, mas
as palavras de Malthus cristalizaram o argumento fluido que existia em sua
mente. Darwin então chegou a conclusão de que nessas circunstancias, as
variações favoráveis seriam preservadas e as desfavoráveis destruídas, o
resultado seria o surgimento de novas espécies.
Darwin entendera então um ponto
crucial de sua teoria: a noção de luta pela sobrevivência. Já era sabido que as
espécies lutavam ferozmente uma contra as outras pela autopreservação. Mas ao
ler Malthus, Darwin então compreendeu que a luta pela sobrevivência se dava
também no interior de cada espécie. Os indivíduos competiam dentro das espécies
e as características dominantes sobreviviam e eram repassadas às gerações
posteriores. Era assim que as características benéficas para o indivíduo
permaneciam e as enfraquecedoras desapareciam.
A luta dentro de uma espécie
acontecia em nível individual. Os indivíduos com características melhor adaptadas
às circunstâncias sobreviveriam para transferir essas características. Enquanto
isso, características nocivas desapareciam à medida que os indivíduos que as
portassem não conseguissem sobreviver para passa-las adiante.
Devemos deixa claro, neste
momento, que Darwin não descobriu a evolução, este era o tema do momento, mas
descobriu o que ela era e como funcionava. Ele chamou esse processo de seleção
natural.
Para finalizar, devemos entender
que as ideias de Darwin foram recebidas com enorme furor. Tanto de entusiastas,
quanto de divergentes da teoria. Suas ideias não deixavam espaço para a intervenção
divina e reduziram o ser humano ao status de um macaco avançado. Segundo o argumento
de Darwin os seres humanos não pertenciam a uma espécie permanente e
divinamente ordenada, mas eram meramente parte de um processo em
desenvolvimento contínuo.
Fonte:
STRATHERN, Paul. Darwin e a evolução em 90 minutos. Rio de Janeiro. Zahar. 2001
Nenhum comentário:
Postar um comentário