Perón faz o juramento após sua primeira vitória como presidente, em junho de 1946 (Foto: AFP) |
Por:
William C. T Rodrigues.
Cap.
VI:
Trigo, carne y sindicatos en la pampa
húmeda argentina.
O movimento
sindical argentino surgiu por volta de 1888 com a criação da Unión Ferroviaria. Muitos outros
sindicatos surgiram posteriormente e entre os mais importantes deste período
esta a FOA (Federación Obrera Argentina)
de inspiração anarquista, que posteriormente (1904) passou a se chamar FORA
(Federación Regional Obrera Argentina). A trajetória do sindicalismo argentino
se consolida com a criação da Confederación General del Trabajo (CGT) em 1930 e
alcança sua auge durante o governo Perón.
O surgimento e a
expansão dos sindicatos argentinos está intimamente ligado a exportação de
carne. O desenvolvimento deste mercado trouxe capital, imigrantes europeus e
migrantes de outras regiões da Argentina. Isso criou as bases para a
constituição de um movimento sindical ativo e de grande relevância em todo o
continente, que em 1945 chegaria ao seu auge.
Francisco Zapata
divide a trajetória do sindicalismo argentino em dois longos períodos: um
pré-peronista (1880-1943) e outro peronista (1943-1955). O autor ainda admite a
existência de um terceiro período que é o chamado peronismo sem Perón que vai
de 1955 até a atualidade.
O
sindicalismo argentino entre 1880 e 1943.
A
formação do proletariado argentino;
O crescimento
econômico propiciado pela exportação da carne e do trigo foi seguido por um
processo de modernização do país, onde portos e as ferrovias foram ampliados, e
consequentemente houve um crescimento urbano.
Esse crescimento
transformou a Argentina na menina dos olhos dos imigrantes europeus, que vinham
a América em busca de emprego e traziam na bagagem ideologias políticas, em
especial o anarquismo.
A
criação das organizações, o conflito sindical e o Estado.
Com a base
social formada por ferroviários, operários, portuários e etc, a FOA e a FORA
desenvolveram a tática da ação direta com diversas greves pelo país. A primeira
década do século XX é marcada pelos diversos enfrentamentos entre os grevistas
e as forças repressivas do Estado, controladas pelas alas mais conservadoras da
sociedade que temiam esta crescente ameaça a sua dominação. Esses conflitos
mostram que os sindicatos anarquistas não se baseavam na negociação entre
patrão e empregado, mas sim na mobilização das massas pelas ruas de Buenos
Aires.
Outro fato
interessante sobre os sindicatos anarquistas são que eles não eram vinculados a
nenhum dos partidos políticos progressistas da época, como a Unión Cívica Radical e o Partido
Socialista. Pelo contrário a FORA havia surgido de um rompimento interno com o
partido socialista.
A política
operária de Yrigoyen facilitou a expansão sindical e debilitou os anarquistas,
que enfrentaram o crescimento dos socialistas que eram mais propensos a
participar das negociações com o Estado.
A
questão ideológica.
Os sindicatos
argentinos estavam divididos pelas ideologias anarquistas e socialistas. Essa
divisão ideológica pode explicar o motivo de tanta atuação e radicalismo nas
suas primeiras três décadas de vida, já que ambas buscavam conseguir o apoio
dos trabalhadores.
Os socialistas
seguiam a linha da socialdemocracia europeia, buscando a inserção dos
trabalhadores no capitalismo. Assim, o triunfo eleitoral e a chegada ao poder
era seu objetivo principal. Por outro lado, os anarquistas seguiam a linha mais
radical da ação direta. Assim, os anarquistas argentinos – em sua maioria
imigrantes – chocaram-se diversas vezes com os socialistas que representavam os
artesãos nascidos no país.
A negativa dos
anarquistas de assumir um projeto político aos poucos foi enfraquecendo o
movimento, uma vez que com o governo Yrigoyen a ação violenta e radical deixou
de fazer sentido entre a classe operária. O pensamento populista fez com que o
operário se sentisse parte da nação, desmanchando a consciência de classe
excluída, necessária para o anarquismo.
O
sindicalismo argentino entre 1930 e 1943.
Uma vez
institucionalizado, o sindicalismo argentino teve que fazer frente a uma etapa
de diversificação econômica. Após o impacto da crise de 1929, as autoridades
conseguiram impulsionar a indústria manufatureira. Com isso, durante a década
de 1930 a acumulação de capital na Argentina seguiu em um ritmo superior ao do
capital estrangeiro, e o numero de operários da indústria chegou a quase
seiscentos mil em 1939, destes, quatrocentos mil eram afiliados a algum
sindicato.
Em 1930 surge a
CGT, e as greves ocorrem por toda a década, em especial por motivos
financeiros, como a reivindicação por melhores salários. Com a eclosão da
Segunda Guerra Mundial, o quadro geral do trabalhador argentino tem uma
melhora.
Dentro da CGT há
uma divisão ideológica entre socialistas e comunistas, entres conflitos
terminam com a divisão em 1943 da CGT em CGT 1 e CGT 2. Esta rivalidade
representava uma tendência dentro do sindicalismo argentino: onde um lado era
partidário do jogo institucional e o outro mais radical.
A
antessala do governo peronista: 1943-1945.
Foi a
impopularidade dos governantes argentinos entre 1930 e 1943 que levou ao golpe
de Estado que desencadeou a ascensão de Perón até o poder. O autor considera
que essa transição foi mais política do que econômica. Isso explica o grande
esforço de Perón para convencer os trabalhadores, desde sua passagem pelo
Departamento Nacional de Trabalho (DNT) de que ele representava o alvorecer de
uma nova era. Isso veio através dos diversos direitos trabalhistas cedidos por
ele. Aos poucos Perón foi controlando a aparato sindical, especialmente a CGT
2, comandada pelos comunistas. Essas medidas foram determinantes para a
mobilização das massas que levou Perón ao poder.
O
governo peronista: 1945-1955.
Grande parte das
medidas que consolidaram Perón no poder depois de 1945 vieram do período de
transição iniciado em 1943.
As
origens do peronismo.
O surgimento do
peronismo tem, além das ambições de Perón e a conjuntura política que facilitou
o acesso dele ao poder, importantes bases que é importante assinalar. As
migrações do interior rumo as cidades industriais como Rosário, Córdoba e
Buenos Aires criou uma “nova” classe operária que debilitou o impacto que os
imigrantes europeus (classe operária “velha”) na ação sindical. Além de que os
migrantes não encontram representatividade entre os socialistas e comunistas,
estando disponíveis ao chamado do líder carismático. Assim fica claro que o
apoio decisivo a Perón veio dos operários manuais, de migrações recentes,
originários de regiões atrasadas e rurais, que ao tomarem contato com o mundo
moderno e urbano viram em Perón a possibilidade de resolver seus problemas de desenraizamento.
O
aparato peronista.
Além desses
fatores estruturais, não devemos nos esquecer o impacto das medidas que ele
tomou durante sua passagem pelo DNT. Primeiramente ele criou um sistema de
dependência dos sindicatos ao Estado, além de subordinar e excluir os
sindicatos que lhe eram hostis. Ele ainda tinha o poder de fixar salários e
criar projetos sociais, conseguindo assim um controle total sobre o
desenvolvimento da economia. Isso criou um regime em que trabalhadores,
empresários e o Estado deveriam construir uma aliança que tinha por objetivo
enaltecer a nação. Essa o chamado justicialismo,
uma espécie de terceira via entre o capitalismo e o comunismo.
A
trajetória da ação operária.
As greves do
inicio do governo peronista tem a ver com sua estratégia de consolidação
política. O conflito dos primeiros anos serviu de advertência aos patrões, a
respeito da necessidade de remuneração justa de seus empregados e de outras
reinvindicações sociais.
A
ideologia e a consciência operária.
O sindicalismo sob
a ótica peronista, não era um sindicalismo classista, mas que agregava todos os
“produtores” contra os parasitas. Preconizando uma convivência harmoniosa entre
classes, a subordinação dos interesses dos trabalhadores aos da nação e a
obediência a um Estado paternalista.
O
pós-peronismo.
O pós-peronismo
é marcado por três fases: 1955-1973 que precede o regresso efêmero de Perón ao
poder (1973-1974), 1976-1982 durante o regime militar e 1982 com a
redemocratização até a eleição de Menem.
Em cada um
desses períodos é possível observar a presença considerável do sindicalismo no
país. Apesar das dificuldades únicas de cada um dos períodos.
Fonte:
ZAPATA; Franscisco. Trigo, carne y sindicatos en la Pampa húmeda argentina. p. 95-111. In Autonomia y Subordinación en el sindicalismo latinoamericano. México: F.C.E. 1993
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