quarta-feira, 9 de abril de 2014

Resumo do cap. VI do livro Autonomía y Subordinación en el Sindicalismo Latino Americano de Francisco Zapata.

Perón faz o juramento após sua primeira vitória como presidente, em junho de 1946 (Foto: AFP)
Por: William C. T Rodrigues.
Cap. VI: Trigo, carne y sindicatos en la pampa húmeda argentina.
O movimento sindical argentino surgiu por volta de 1888 com a criação da Unión Ferroviaria. Muitos outros sindicatos surgiram posteriormente e entre os mais importantes deste período esta a FOA (Federación Obrera Argentina) de inspiração anarquista, que posteriormente (1904) passou a se chamar FORA (Federación Regional Obrera Argentina). A trajetória do sindicalismo argentino se consolida com a criação da Confederación General del Trabajo (CGT) em 1930 e alcança sua auge durante o governo Perón.
O surgimento e a expansão dos sindicatos argentinos está intimamente ligado a exportação de carne. O desenvolvimento deste mercado trouxe capital, imigrantes europeus e migrantes de outras regiões da Argentina. Isso criou as bases para a constituição de um movimento sindical ativo e de grande relevância em todo o continente, que em 1945 chegaria ao seu auge.
Francisco Zapata divide a trajetória do sindicalismo argentino em dois longos períodos: um pré-peronista (1880-1943) e outro peronista (1943-1955). O autor ainda admite a existência de um terceiro período que é o chamado peronismo sem Perón que vai de 1955 até a atualidade.
O sindicalismo argentino entre 1880 e 1943.
A formação do proletariado argentino;
O crescimento econômico propiciado pela exportação da carne e do trigo foi seguido por um processo de modernização do país, onde portos e as ferrovias foram ampliados, e consequentemente houve um crescimento urbano.
Esse crescimento transformou a Argentina na menina dos olhos dos imigrantes europeus, que vinham a América em busca de emprego e traziam na bagagem ideologias políticas, em especial o anarquismo.
A criação das organizações, o conflito sindical e o Estado.
Com a base social formada por ferroviários, operários, portuários e etc, a FOA e a FORA desenvolveram a tática da ação direta com diversas greves pelo país. A primeira década do século XX é marcada pelos diversos enfrentamentos entre os grevistas e as forças repressivas do Estado, controladas pelas alas mais conservadoras da sociedade que temiam esta crescente ameaça a sua dominação. Esses conflitos mostram que os sindicatos anarquistas não se baseavam na negociação entre patrão e empregado, mas sim na mobilização das massas pelas ruas de Buenos Aires.
Outro fato interessante sobre os sindicatos anarquistas são que eles não eram vinculados a nenhum dos partidos políticos progressistas da época, como a Unión Cívica Radical e o Partido Socialista. Pelo contrário a FORA havia surgido de um rompimento interno com o partido socialista.
A política operária de Yrigoyen facilitou a expansão sindical e debilitou os anarquistas, que enfrentaram o crescimento dos socialistas que eram mais propensos a participar das negociações com o Estado.
A questão ideológica.
Os sindicatos argentinos estavam divididos pelas ideologias anarquistas e socialistas. Essa divisão ideológica pode explicar o motivo de tanta atuação e radicalismo nas suas primeiras três décadas de vida, já que ambas buscavam conseguir o apoio dos trabalhadores.
Os socialistas seguiam a linha da socialdemocracia europeia, buscando a inserção dos trabalhadores no capitalismo. Assim, o triunfo eleitoral e a chegada ao poder era seu objetivo principal. Por outro lado, os anarquistas seguiam a linha mais radical da ação direta. Assim, os anarquistas argentinos – em sua maioria imigrantes – chocaram-se diversas vezes com os socialistas que representavam os artesãos nascidos no país.
A negativa dos anarquistas de assumir um projeto político aos poucos foi enfraquecendo o movimento, uma vez que com o governo Yrigoyen a ação violenta e radical deixou de fazer sentido entre a classe operária. O pensamento populista fez com que o operário se sentisse parte da nação, desmanchando a consciência de classe excluída, necessária para o anarquismo.
O sindicalismo argentino entre 1930 e 1943.
Uma vez institucionalizado, o sindicalismo argentino teve que fazer frente a uma etapa de diversificação econômica. Após o impacto da crise de 1929, as autoridades conseguiram impulsionar a indústria manufatureira. Com isso, durante a década de 1930 a acumulação de capital na Argentina seguiu em um ritmo superior ao do capital estrangeiro, e o numero de operários da indústria chegou a quase seiscentos mil em 1939, destes, quatrocentos mil eram afiliados a algum sindicato.
Em 1930 surge a CGT, e as greves ocorrem por toda a década, em especial por motivos financeiros, como a reivindicação por melhores salários. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o quadro geral do trabalhador argentino tem uma melhora.
Dentro da CGT há uma divisão ideológica entre socialistas e comunistas, entres conflitos terminam com a divisão em 1943 da CGT em CGT 1 e CGT 2. Esta rivalidade representava uma tendência dentro do sindicalismo argentino: onde um lado era partidário do jogo institucional e o outro mais radical.
A antessala do governo peronista: 1943-1945.
Foi a impopularidade dos governantes argentinos entre 1930 e 1943 que levou ao golpe de Estado que desencadeou a ascensão de Perón até o poder. O autor considera que essa transição foi mais política do que econômica. Isso explica o grande esforço de Perón para convencer os trabalhadores, desde sua passagem pelo Departamento Nacional de Trabalho (DNT) de que ele representava o alvorecer de uma nova era. Isso veio através dos diversos direitos trabalhistas cedidos por ele. Aos poucos Perón foi controlando a aparato sindical, especialmente a CGT 2, comandada pelos comunistas. Essas medidas foram determinantes para a mobilização das massas que levou Perón ao poder.
O governo peronista: 1945-1955.
Grande parte das medidas que consolidaram Perón no poder depois de 1945 vieram do período de transição iniciado em 1943.
As origens do peronismo.
O surgimento do peronismo tem, além das ambições de Perón e a conjuntura política que facilitou o acesso dele ao poder, importantes bases que é importante assinalar. As migrações do interior rumo as cidades industriais como Rosário, Córdoba e Buenos Aires criou uma “nova” classe operária que debilitou o impacto que os imigrantes europeus (classe operária “velha”) na ação sindical. Além de que os migrantes não encontram representatividade entre os socialistas e comunistas, estando disponíveis ao chamado do líder carismático. Assim fica claro que o apoio decisivo a Perón veio dos operários manuais, de migrações recentes, originários de regiões atrasadas e rurais, que ao tomarem contato com o mundo moderno e urbano viram em Perón a possibilidade de resolver seus problemas de desenraizamento.
O aparato peronista.
Além desses fatores estruturais, não devemos nos esquecer o impacto das medidas que ele tomou durante sua passagem pelo DNT. Primeiramente ele criou um sistema de dependência dos sindicatos ao Estado, além de subordinar e excluir os sindicatos que lhe eram hostis. Ele ainda tinha o poder de fixar salários e criar projetos sociais, conseguindo assim um controle total sobre o desenvolvimento da economia. Isso criou um regime em que trabalhadores, empresários e o Estado deveriam construir uma aliança que tinha por objetivo enaltecer a nação. Essa o chamado justicialismo, uma espécie de terceira via entre o capitalismo e o comunismo.
A trajetória da ação operária.
As greves do inicio do governo peronista tem a ver com sua estratégia de consolidação política. O conflito dos primeiros anos serviu de advertência aos patrões, a respeito da necessidade de remuneração justa de seus empregados e de outras reinvindicações sociais.
A ideologia e a consciência operária.
O sindicalismo sob a ótica peronista, não era um sindicalismo classista, mas que agregava todos os “produtores” contra os parasitas. Preconizando uma convivência harmoniosa entre classes, a subordinação dos interesses dos trabalhadores aos da nação e a obediência a um Estado paternalista.
O pós-peronismo.
O pós-peronismo é marcado por três fases: 1955-1973 que precede o regresso efêmero de Perón ao poder (1973-1974), 1976-1982 durante o regime militar e 1982 com a redemocratização até a eleição de Menem.
Em cada um desses períodos é possível observar a presença considerável do sindicalismo no país. Apesar das dificuldades únicas de cada um dos períodos.
Fonte:
ZAPATA; Franscisco. Trigo, carne y sindicatos en la Pampa húmeda argentina. p. 95-111. In Autonomia y Subordinación en el sindicalismo latinoamericano. México: F.C.E. 1993

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