terça-feira, 1 de maio de 2018

Introdução a Filosofia Medieval: Fé X Razão

(P.135) Cap. 06: O Labirinto de Deus.
(P.136) “Senhor, dai-me a castidade – mas não agora” Santo Agostinho.
(P.137) O nascimento de Deus.
Na história da filosofia antiga, há um subenredo oculto, como podemos perceber, os filósofos gregos sempre buscaram o elemento formador do universo. Estavam quase desenvolvendo um monoteísmo filosófico. Aristóteles que em sua metafísica apresenta o ser supremo é um bom exemplo.
Com a ascensão do cristianismo entre os anos 1 e 3 d.C o Deus dos filósofos foi fundido com a divindade das tribos de Israel. O triunfo do cristianismo acarretou novos desafios intelectuais a filosofia: unir Razão e Fé. É essa linha de pensamento que vai atravessar toda Idade Média.
Nos primeiros anos do cristianismo, os chamados pais da Igreja (filosofia patrística) utilizaram-se do pensamento platônico, mas ele não respondia tudo.
 (P.138) Um dos principais problemas dos filósofos cristãos era o problema do mal – típico do monoteísmo.
Os deuses gregos possuíam todos os defeitos e qualidades dos humanos. Além disso, segundo a mitologia, eles não haviam criado o universo, mas surgidos do caos de forma misteriosa. Já as divindades monoteístas são infinitamente boas, criaram todo o universo e possuem poderes ilimitados. Daí surge um problema: se o Criador do mundo é onipotente, onisciente, onipresente e benéfico por que existe o mal?
Lactâncio (250-325 d.C): teólogo de uma província romana do norte da África, acreditava que Deus permite que o demônio atormente o homem para testar seu livre arbítrio, caso contrário a criação seria um tédio. O problema desta teoria é que ela se aproximava do maniqueísmo – religião persa que acreditava ser o universo um terreno de combate entre duas entidades igualmente poderosas (uma boa e outra má). Para o cristianismo isso era inaceitável, segundo a teoria de Lactâncio o diabo seria quase tão poderoso quanto Deus.
(P.139) Santo Agostinho (354-430): nascido em uma província romana do norte da África (Numídia). Após uma vida de muita bebedeira, mulheres e boêmia, conheceu o neoplatonismo (um platonismo místico próximo do cristianismo).
(P.140) Grande conhecedor do pensamento clássico, ao longo de sua vida, esforçou-se por justificar ou explicar racionalmente as verdades reveladas pela fé.
Sua principal obra “Cidade de Deus”, descreve um drama onde os capítulos são séculos e os personagens gerações, além de haver uma separação entre a cidade mundana e a cidade de Deus. O livro trabalha com a ascensão do cristianismo.
Para explicar o problema da existência do mal, usemos um silogismo: Deus criou todas as coisas, o mal é uma coisa; logo Deus criou o mal”. Para negar essa ideia Santo Agostinho usa de uma jogada lógica – “nega que o mal seja uma coisa”.
(P.141) Assim, tudo o que Deus criou é essencialmente bom, mas as criaturas não podem ser tão boas quanto o seu criador. Dessa forma, o mal é apenas a ausência do bem, como um buraco na parede o mal é um espaço vazio na bondade.
A consolação da filosofia.
Santo Agostinho, e outros pais da igreja anexaram e absorveram rapidamente as ideias de Platão. Já o caminho de Aristóteles foi mais acidentado. Na Europa ocidental a maioria dos textos de Aristóteles se perdeu no fim da Antiguidade.
Boécio (480-524): foi um dos grandes heróis do pensamento ao traduzir toda obra de Aristóteles do grego para o Latim.
Após terminar o Organon, por motivos obscuros foi jogado numa cela de prisão e condenado a morte. Preso escreveu A Consolação da Filosofia. Neste livro ele conta que enquanto estava preso recebeu a visita de uma bela mulher (filosofia) que vem repreender as lamúrias de Boécio. É insensatez reclamar da sorte e depositar a felicidade em coisas instáveis. A verdadeira felicidade está na mente. O sábio consegue ser feliz mesmo à espera da morte.
(P.144) Deus não é uma ilha.
O esforço em adequar Fé e Razão deu origem a um dos principais exercícios intelectuais da Idade Média: a elaboração de demonstrações lógicas da existência divina.
Santo Anselmo (1033-1099): afirmava que a existência de Deus no pensamento humano é a prova de que ele existe na realidade. É o chamado pensamento ontológico.
(P.146) Deus não é um número.
São Tomás de Aquino (1225-1274) foi um dos maiores intelectuais da Idade Média, que em seu livro Suma Teológica elabora cinco provas alternativas para a existência de Deus.
O principal argumento define Deus como um “ser necessário”, para que seres contingentes[1].
(P.147) Os nomes das coisas.
A tentativa de justificar os dogmas por meio da razão esgotou-se no século XIV.
Guilherme de Ockham (1300-1349) rejeitou todos os argumentos clássicos sobre a existência de Deus e afirmou que apenas a fé pode garantir a veracidade da religião. Ockham elaborou um princípio de economia de pensamento, a famosa navalha de Ockham.
(P.148) Platão afirmou que as ideias existem separadas das coisas. Aristóteles sustentava que as ideias existem nas próprias coisas. Ou seja, ambos acreditavam que a realidade objetiva estava além da mente humana. Eram realistas.
Ockham negou tudo isso. As ideias de pedra, árvore e estrela são apenas formulações da minha mente, convenções necessárias para que eu pense sobre o mundo, nada além de nomes. Seu pensamento ficou conhecido como nominalismo.
O debate entre realistas e nominalistas foi uma das grandes polêmicas da escolástica, durando até o Renascimento.
Fonte:
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.135-150

[1] Na filosofia chamam-se de contingentes os acontecimentos que ocorrem de maneira inesperada, ou seja, contingentemente – de modo casual.