quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde.

Como seria um retrato de sua alma?
Sobre o Autor.
Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde, ou simplesmente Oscar Wilde, nasceu em Dublin na Irlanda em 16 de outubro de 1854, filho de um médico, Sir William Wilde e de uma escritora, Jane Francesca Elgee. Desde o berço esteve cercado por intelectuais amigos da família.
Wilde é considerado uns dos grandes nomes da literatura de língua inglesa, sendo responsável por diversos poemas, peças teatrais, ensaios e um romance que é o foco deste escrito.
Sua vida pessoal é extremamente conturbada pelo fato de ser homossexual em plena era vitoriana (1837-1901), período fortemente conservador e de leis duríssimas sobre esta prática. Após atingir o auge de sua vida intelectual e produtiva, sendo reconhecido em toda Europa como um grande escritor, caiu em desgraça quando foi denunciado pelo Marquês de Queensberry, pai de seu suposto amante Lord Alfred Douglas (ou Bosie), pela prática de Sodomia. Condenado, cumpriu dois anos de prisão e trabalhos forçados.
Liberto em 1897, nunca mais recobrou o prestígio e a produtividade, entregou-se ao álcool, suas obras foram tiradas de cartaz, perdeu grande parte de seus bens e enfrentava a dureza da sífilis quando foi acometido por um violento ataque de meningite ao qual não resistiu e faleceu em Paris no dia 30 de novembro de 1900.
A Obra.
O Retrato de Dorian Gray teve originalmente sua primeira publicação em 1890 nas páginas de revista Lippincott’s, sendo publicada simultaneamente na Inglaterra e nos EUA. Este livro possui três edições, sendo as duas primeiras atenuadas para não chocar o publico e a terceira escondida por 120 anos até que foi publicada em 2011 com base nos datiloscritos de Wilde.
Como o próprio título do livro deixa evidente, a obra conta a história do jovem e belo Dorian Gray um tímido rapaz que acaba de ingressar na alta sociedade inglesa do século XIX. Sua afabilidade, humildade, ingenuidade, doçura e sobretudo sua beleza acabam por encantar o pintor Basil Hallward que o vê como o modelo perfeito a ser pintado.
Durante a produção do fatídico retrato, Gray conhece Lorde Henry Wotton, amigo de Basil, e tem início o diálogo que mudará os rumos da vida de todos. Lorde Wotton admira a beleza de Gray, mas adverte que em breve ela passará e com ela a felicidade da vida, Dorian lamenta que com o passar dos anos ele perderá a beleza ali retratada. Forma-se um pacto diabólico, o quadro é finalizado e sem explicações o retrato começa a envelhecer ao invés do próprio Gray. Mas a qual custo?
Análise da Obra.
Todos desejamos uma vida longa, mas poucos são os que aceitam docilmente o envelhecimento. As primeiras rugas, a calvície, a perda da jovialidade e da virilidade são traumáticas e pouco desejáveis. Este é o fio condutor que permeia a obra: você estaria disposto a vender a sua alma em troca da juventude eterna?
Diversos são os mitos, as lendas, os contos sobre a juventude eterna. Narciso, a fonte da juventude, Cocanha são exemplos do desejo humano de viver uma vida longa e jovial. Oscar Wilde traz este questionamento para a era vitoriana de forma primorosa. Dorian Gray é uma espécie de Narciso do século XIX.
A natureza humana é debatida em cada linha desta grande obra, o egoísmo a falta de empatia, a maldade, a ganancia são elementos centrais e motivacionais de uma série de crimes e suicídios em nome da vaidade.
Acredito que o grande trunfo de Wilde foi separar a estética da moral. Basta uma simples pesquisada em livros clássicos ou filmes de Hollywood para perceber que em geral a beleza sempre vem acompanhada da bondade. Os mocinhos são sempre belos e morais enquanto que os vilões trazem consigo além da maldade pela maldade a feiura em seus rostos e corpos. Neste caso não, Gray aos poucos transforma-se em um facínora egoísta deixando um rastro de desolação enquanto que sua face continua bela e encantadora. Assim, Wilde se desfaz da ideia de que a moralidade vem acompanhada de sendo estético.
Outro elemento importante deste livro são os personagens Basil e Lorde Wotton e a influência que ambos intentam sobre o jovem Gray que inicialmente assemelha-se a uma folha em branco. Ambos personagens são representativos da natureza humana, enquanto que o pintor Basil representa a parcimônia, a tolerância, a descrição e o cometimento, Lorde Wotton é um hedonista buscando prazeres imediatos e sem limites. Agora coloque-se no lugar de Gray, se você fosse rico, belo e jovem para toda a eternidade você seria cauteloso ou viveria os prazeres da vida até as últimas consequências? A vitória da influência de Wotton é simbolizada pelo assassinato de Basil pelo próprio Gray.

Engana-se quem acredita que este livro trata somente sobre um retrato de Dorian Gray, ele na verdade é um retrato da própria natureza humana, seu egoísmo, cinismo e sua falta de caráter. Quantas guerras não foram realizadas em nome da vaidade? Quantos assassinatos foram realizados em nome do belo? Quantas pessoas não foram excluídas e não puderam viver suas vidas plenamente por não se encaixarem em padrões? Este livro é para todas as épocas, em especial para a nossa onde o culto a aparência física e a juventude deixou os salões da realeza e transformou-se em fenômeno de massa.
Referências.
WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. 1 ed. São Paulo: Mediafashion, 2016.