(P. 33) O que é disciplina Escolar?
Quando se
analisa a trajetória da disciplina História, constata-se que esta faz parte dos
“planos de estudos” de 1837 da primeira escola pública brasileira. Entretanto,
acompanhando a trajetória da história no nível superior, constata-se que o
primeiro curso de história surgiu apenas na década de 30 do séc. XX. Tal
situação provoca algumas indagações: O que é uma disciplina escolar e quais são
suas especificidades? Quais as relações entre disciplina escolar e disciplina
acadêmica? Como os estudos históricos se constituíram, para os níveis
secundário e primário, ao longo da educação escolar? Qual tem sido a
participação dos professores na construção da disciplina de história nas salas
de aula? (...)
(P. 34) A
história e outras tantas disciplinas escolares tem feito parte do cotidiano de
milhares de alunos e professores de tal forma que acabamos por achar natural
essa organização curricular e essa maneira de “ser da escola”.
Existem
as “matérias” e os respectivos professores encarregados de ministrá-las, obedecendo
à determinada carga horária no decorrer de um tempo específico chamado “ano
letivo”. Os professores são classificados por grupos: disciplinas cientificas,
humanas, exatas, etc. Além de outra divisão entre os docentes: os especialistas
das disciplinas e os polivalentes das séries iniciais do ensino fundamental.
Diante desse quadro, este capítulo procura entender o que é disciplina escolar
e os saberes por ela produzido.
A
história e os demais escolares fazem parte de um sistema educacional que mantém
especificidades no processo de constituição de saberes ou de determinado
conhecimento- o conhecimento escolar.
(P. 35) .1 Polêmicas sobre a concepção de disciplina
escolar.
Responder
à pergunta “o que é disciplina escolar?” não é simples. Os debates mais significativos
em torno dessa concepção tem sido realizado por pesquisadores franceses e
ingleses, com divergências importantes e significativas entre eles.
Existem
os defensores da ideia de disciplina como “transposição didática” e os que
concebem disciplina como um campo de “conhecimento autônomo”.
1.1. Uma
Transposição Didática.
(P. 36)
Para determinados educadores, franceses e ingleses, as disciplinas escolares
decorrem das ciências eruditas de referência, dependentes da produção das
universidades, e servem como instrumento de “vulgarização” do conhecimento
produzido por um grupo de cientistas.
O
pesquisador francês Yves Chevellard, passou a designar tal concepção como
“transposição didática”. Ele entende ser a escola parte de um sistema no qual o
conhecimento por ela reproduzido se organiza pela mediação da “noosfera”, que
corresponde ao conjunto de agentes sociais externos a sala de aula –
Inspetores, autores de livros didáticos, técnicos educacionais, famílias. Esses
agentes garantem à escola o fluxo e as adaptações dos saberes provenientes das
ciências produzidas pela academia.
Essa
abordagem considera a disciplina escolar dependente do conhecimento erudito ou científico.
Também se consolida, por essa concepção uma hierarquia de conhecimentos,
encontrando-se a disciplina escolar em uma escala inferior, como saber de
segunda classe.
(P. 37)
No que refere aos conteúdos e métodos de ensino e aprendizagem, entende-se que
os conteúdos escolares provem direta e exclusivamente da produção cientifica e
os métodos decorrem apenas de técnicas pedagógicas, que transforma-se em
didáticas.
Segundo
esse ponto de vista, a escola é o lugar de recepção e de reprodução do
conhecimento externo. E a figura do professor aparece como um intermediário
desse processo de reprodução, cujo grau de eficiência é medido pela capacidade
de adaptação do conhecimento científico ao meio escolar.
1.2. Disciplina escolar como
entidade específica.
Para
pesquisadores como, o inglês Ivor Goodson e o francês André Chervel, a
disciplina escolar não se constitui pela simples “transposição didática” do
saber erudito, mas, antes, por intermédio de uma teia de outros conhecimentos.
Para os
autores que se opõem à concepção de “transposição didática”, um ponto inicial é
o fato de que aquela abordagem acentua a hierarquização de saberes como base
para a constituição de conhecimentos para a sociedade.
(P. 38)
Além disso, afirmam que essa hierarquização do conhecimento tem conotações
sociais, como instrumento de poder de determinados setores da sociedade.
André
Chervel, ao defender a disciplina escolar como entidade relativamente autônoma,
considera as relações de poder próprias da escola.
É preciso
deslocar o acento das influências exteriores a escola, inserindo o conhecimento
por ela produzido no interior de uma cultura escolar.
(P. 39)
Chervel concebe a escola como uma instituição que, embora obedeça a uma lógica,
deve ser considerada como lugar de produção de um saber próprio. As disciplinas
escolares devem ser analisadas como parte integrante da cultura escolar.
Conteúdos e métodos, não podem ser entendidos separadamente, e os conteúdos
escolares não são vulgarizações ou mera adaptações de um conhecimento produzido
em “outro lugar”.
A seleção
dos conteúdos escolares, por conseguinte, depende de um complexo sistema de
valores e de interesses próprios da escola e do papel por ela desempenhado na
sociedade letrada e moderna.
(P. 40) 1.3 Constituintes das disciplinas
escolares.
Para
entender as disciplinas escolares, é preciso situá-las em um processo dinâmico
de produção. Segundo Chervel, as disciplinas escolares constituíram-se
efetivamente a partir de 1910. A constituição das disciplinas foi resultado de
disputas entre os conhecimentos que deveriam fazer parte do currículo escolar.
Desde o
fim do séc. XIX se discutia sobre a necessidade de manter um currículo
humanístico organizado pelo estudo das línguas e da oratória. Que eram
entendidas como fundamentais para a formação das elites.
(P. 41)
Com o desenvolvimento da industrialização, os conhecimentos das áreas
denominadas exatas, passaram a ser consideradas importantes e disputavam espaço
com as áreas das “humanidades clássicas”. Foi importante nesse momento,
estabelecer as finalidades de cada uma das disciplinas, explicitar os conteúdos
selecionados para serem ensinados e definir os métodos que garantissem tanto a
apreensão de tais conteúdos como a avaliação da aprendizagem.
As
finalidades de uma disciplina escolar, cujo estabelecimento é essencial para
garantir sua permanência no currículo, caracterizam-se pela articulação entre
os objetivos instrucionais mais específicos e os objetivos educacionais mais
gerais.
(P. 42)
As finalidades de uma disciplina tendem sempre a mudanças, de modo que atendam
diferentes públicos escolares e respondam às suas necessidades sociais e
culturais inseridas no conjunto da sociedade.
(P. 43)
Outro constituinte fundamental da disciplina escolar é o conteúdo explicito. Os
conteúdos explícitos são geralmente organizados por temas específicos e
apresentados em planos sucessivos, conforme os níveis de escolarização e devem
estar em sintonia com os objetivos educacionais e instrucionais.
Os
conteúdos explícitos articulam-se intimamente com os métodos de ensino e de
aprendizagem. Tais conteúdos são apresentados ao público por intermédio de
diferentes métodos, indo da aula expositiva até o uso dos livros didáticos ou da
informática. O método é importante por ser um dos elementos que estão
diretamente vinculados ao conteúdo explícito e aos objetivos das disciplinas.
(P. 44) E
por fim, temos a avaliação, essencial para se ter controle sobre o que é
ensinado ou aprendido pelo aluno. Na avaliação reside o maior poder do
professor.
2. Disciplina escolar e produção
do conhecimento.
2.1 Disciplina escolar ou matéria
escolar.
(P. 45)
Ivor Goodson entende a disciplina como uma forma de conhecimento oriunda e
característica da tradição acadêmica e para o caso das escolas primárias e
secundárias utiliza-se o termo matéria escolar.
Goodson
explica que muitas matérias escolares não apresentam as mesmas estruturas das
disciplinas acadêmicas e não se utilizam de conceitos e metodologias
semelhantes. Ademais, argumentando que muito do que se trabalha na escola nem
tem uma disciplina base ou ciência referência, pois, constituindo-se numa
comunidade autônoma recebe múltiplas interferências de professores,
administradores da escola ou da sociedade.
(P. 47)
Podem-se identificar diferenças entre as disciplinas acadêmicas e as escolares,
embora elas tenham relações entre si. Uma das diferenças importantes diz
respeito a seus objetivos, que evidentemente não são os mesmos. A disciplina
acadêmica visa formar um profissional. Já a matéria escolar visa formar um
cidadão comum que necessita de ferramentas intelectuais variadas para
compreender o mundo físico e social em que vive.
(P. 48) 2.2. Disciplina escolar e conhecimento
histórico.
O
historiador francês Henri Moniot, ao estudar a história enquanto disciplina
escolar conclui que seu ensino, no fim do séc. XIX, assegurou a existência da
história universitária.
A divisão
da história em grandes períodos (Antiguidade, média, moderna e contemporânea),
criada para organizar os estudos escolares acabou por definir as divisões das
disciplinas históricas universitárias.
(P. 49)
Essa organização das disciplinas é uma das evidencias que permitem refletir
sobre as relações entre o conhecimento acadêmico e o escolar
Modificar
o currículo do ensino fundamental e médio, como quer as recentes propostas do
ensino temático, implica mudanças no currículo de nível superior.
A
história escolar tem um perfil próprio, mas há um intercâmbio de legitimações
entre as duas entidades específicas
A
articulação entre as disciplinas escolares e as disciplinas acadêmicas é,
portanto, complexa e não pode ser entendida como um processo mecânico e linear,
pelo qual o que se produz enquanto conhecimento histórico acadêmico seja
necessariamente transmitido e incorporado pela escola.
2.3. Professores e disciplina
escolares.
(P. 50) O
professor é quem transforma o saber a ser ensinado em saber aprendido, ação
fundamental no processo de produção do conhecimento. Conteúdos, métodos e
avaliações constroem-se nesse cotidiano e nas relações entre professores e
alunos.
(P. 51)
“Dar aula” é uma ação complexa que exige o domínio de vários saberes
característicos e heterogêneos. De acordo com o canadense Maurice Tardif, e a
brasileira Ana Maria Monteiro, os professores mobilizam em seu oficio os
saberes das disciplinas, os saberes curriculares, os saberes da formação
profissional e os saberes da experiência. A pluralidade desses saberes
corresponde a um trabalho profissional que se define como “saber docente”.
Bibliografia:
BITTENCOURT;
Circe Maria F: “Ensino de História: Fundamentos e Métodos” São Paulo. Ed
Cortez, 2004. Pág 33-55.
Cara, te amo HAUAHAUHUAUAH :D
ResponderExcluirqueria saber algo sobre mudanças e permanencias nos metodos da Historia Esolar...falows...
ResponderExcluirEstou preparando algumas resenhas e fichamentos sobre o livro organizado por Leandro Karnal chamado "História na sala de aula" conceitos, práticas e propostas, bibliografia obrigatória nos concursos para professor.
ResponderExcluirPretendo a partir do mês que vem analisar e postar cada um dos capítulos separadamente.
Obrigado e continue acessando o blog isto me deixa muito feliz
Oi William, tudo bem? Gostei muito desse fichamento, está me ajudando muito em meus estudos.
ExcluirSe possível vc poderia disponibilizar esta resenha do livro " História na sala de aula" de Leandro Karnal? Estou precisando muito. Desde já agradeço.
Alguém tem o livro da Circe em .pdf?
ResponderExcluirTambém queria
ExcluirOlha vc acabou de me socorrer, te amo , Deus te Abençoe sempre.
Excluirfoi um grande prazer. bjs????????????????????????
WILL, OBRIGADA POR DISPONIBILIZAR CONTEÚDOS NECESSÁRIOS AOS ESTUDOS DE QUEM PROCURA SEMPRE MAIS SABER E CONHECIMENTO. QUE DEUS CONTINUE TE ILUMINANDO NESTA CONSTRUÇÃO DE UM SABER DO QUAL SOMOS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS. UM ABRAÇO E TUDO DE BOM!!!
ResponderExcluirgratidão !
ResponderExcluirMim ajudou bastante , muito bom mesmo parabéns William !
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