Sérgio Buarque de Holanda foi um dos maiores
"explicadores" do Brasil.
Sérgio Buarque de
Holanda, paulista da capital, nasceu em 11 de julho de 1902 e veio a falecer no
dia 24 de abril de 1982 então com 79 anos. Em 1921 mudou-se para o Rio de
Janeiro onde matriculou-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, atual
UFRJ, onde graduou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 1925. Ao longo da década de 1920 representou o
modernismo paulista junto a capital carioca.
Durante dois anos (1929-1930)
foi correspondente dos Diários Associados em Berlim. De volta ao Brasil
continuou seu trabalho de jornalista e em 1936 assumiu o cargo de professor
assistente da Universidade do Distrito Federal. Neste mesmo ano casou-se com
Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim, com quem teve sete filhos, entre eles
Chico Buarque. (...)
Ainda em 1936
publicou seu ensaio Raízes do Brasil.
Após a extinção da
Universidade Federal da Capital 1939, Sérgio Buarque passou uma longa temporada
nos EUA, regressando somente em 1946, fixando residência em São Paulo para
assumir a direção do Museu Paulista, posição que ocuparia por quase 10 anos. Em
1958, assumiu a cadeira de História da Civilização Brasileira, agora na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. No mesmo ano ingressou na
Academia Paulista de Letras. Entre 1963 e 1967 foi professor convidado no Chile
e nos EUA, mas em 1969, num protesto contra a aposentadoria compulsória de
colegas da Universidade de São Paulo pelo então vigente regime militar, decidiu
encerrar a sua carreira docente. Apesar disso nunca parou de escrever,
permanecendo intelectualmente ativo até 1982 quando veio a falecer. Dois anos
antes de sua morte participou da cerimônia de fundação do PT.
Contexto Histórico.
Mundo:
Hitler ascende ao
cargo de chanceler na Alemanha.
Tem início a
Segunda Guerra Mundial 1939.
Nos Estados
Unidos, Franklin Roosevelt dá início ao New Deal, o plano de recuperação
econômica após a quebra da bolsa de Nova York, em 1929.
Os movimentos
totalitários começam a eclodir também em outros países europeus, com Mussolini
na Itália, Salazar em Portugal, Francisco Franco na Espanha e Stálin na União
Soviética, além de Hitler na Alemanha.
Brasil:
Sérgio Buarque de
Holanda é extremamente influenciado pela semana de arte moderna.
No Brasil, ocorre
a Revolução de 30, movimento que chega ao poder encabeçado pelo político gaúcho
Getúlio Vargas.
Em 1932 inicia a
Revolução Constitucionalista, organizada pelo estado de São Paulo, que exige,
entre outros pontos, a constitucionalização do novo regime. O movimento é
derrotado, mas força a convocação da Assembleia Constituinte em 1933. Em 1934
seria promulgada a nova Constituição.
Chega ao fim a
política do café-com-leite e tem início o Estado Novo, em novembro de 1937. Ao
longo do restante da década não seriam realizadas eleições no país (as eleições
só voltariam com o fim do Estado Novo, em 1945).
(TEXTO Nº 29)
HOLANDA; Sérgio Buarque de: “Raízes do Brasil”. SP.
Cia das letras, 2002. Pág.141-151.
O Homem Cordial:
Família X Estado:
Diferente do que
muitos pensam o Estado não é uma ampliação da família, não é sua evolução. A
família e o Estado são antagônicos.
O Estado apenas
surge graças à transgressão da ordem familiar, quando triunfa o geral sobre o
particular e somente aí a ordem familiar é abolida.
Pedagogia moderna
e as virtudes anti-familiares:
Sérgio Buarque de
Holanda propõe a abolição da velha ordem patriarcal e suas relações sociais
baseadas na ideia de pai autoritário, mãe submissa e filhos amedrontados.
Segundo ele, essa
maneira de criação amarra o desenvolvimento da criança e cria um adulto com
dificuldade de iniciativa, de mudar a ordem social, de desenvolvimento
intelectual.
Essa criação dura
da família patriarcal prende o jovem a uma estrutura conservadora.
E a luta contra
essa criação deve ser a bandeira da moderna pedagogia. Criar homens
contestadores, críticos e de opinião própria. Separando família de Estado.
Patrimonialismo:
Graças à essa
forma de criação do homem brasileiro, é de extrema dificuldade a ele entender
onde acaba o privado e começa o público.
O funcionário
patrimonial utiliza-se então do público para interesses particulares.
É por isso que
Sérgio Buarque busca na moderna pedagogia a saída para essa questão.
O homem cordial:
A hospitalidade, a
generosidade, etc são virtudes que representam o caráter do povo brasileiro.
Mas segundo Sérgio
Buarque todas essas boas maneiras não significam civilidade e sim a expressão
de um grande fundo emotivo.
Para o homem
cordial a vida em sociedade é a libertação do pavor que ele sente por ele
mesmo.
Para que o homem
cordial viva em sociedade ele precisa estabelecer laços de intimidade e não
somente a manifestação de respeito mútuo.
Um exemplo disso,
é que no Brasil se abole o sobrenome para assim não criar barreiras entre
famílias diferentes.
Essa emotividade e
tentativa de estabelecer intimidade espalha-se por todos os âmbitos da vida
social, até mesmo onde não deveria, como nos negócios e nos ritos religiosos
que se afrouxam e se humanizam.
Esse é o motivo,
pelo qual nenhuma, elaboração política no Brasil deve se basear somente na
razão. Ela deve sempre apelar para a emoção e os sentimentos.
(TEXTO Nº 30)
CARVALHO; Marcus Vinicius Corrêa: “Outros Lados Sérgio Buarque de Holanda
crítica literária, história e política (1920-1940)”. Tese de doutorado
publicada pela UNICAMP. Pág 145-175.
Raízes do Brasil.
A publicação:
A tese de
doutorada de Marcus Vinicius Corrêa Carvalho, tem como objetivo inicial
demonstrar em qual ambiente editorial foi lançado o livro “Raízes do Brasil” e
depois nos....(completar).
Segundo Carvalho,
Sérgio Buarque foi para a Alemanha já com um projeto em mente, que tinha como
objetivo trabalhar com a ideia de formação nacional ou mesmo de história
brasileira. E morando na Europa ele teve a oportunidade de visualizar o “seu
próprio país como um todo” indo muito além dos regionalismos.
Nesta primeira
parte o autor faz uma análise histórica sobre as relações e os bastidores que
envolveram a produção do livro Raízes do Brasil pela gráfica e livraria de José
Olímpio Pereira Filho.
O livro raízes do
Brasil foi lançado em 1936 pela coleção Documentos Brasileiros editada por
Gilberto Freyre e que tinha como principal objetivo concorrer com a coleção
Brasiliana da Cia. Editora Nacional. Assim que foi publicado Freyre achou o
livro de Sérgio Buarque a coisa mais linda em editoração no Brasil.
Entretanto, algum
tempo depois do lançamento do livro, Olímpio confessou a Jorge Amado suas
desilusões com o empreendimento editorial, este por sua vez o aconselhou a
editar livros mais populares e de baixo custo. Jorge Amado criticou a forma como
o livro de Sérgio Buarque foi concebido, o achando sóbrio demais.
A editora de Olímpio
era estruturada pela articulação de uma complexa rede de amizades e disputas,
sendo esta as relações que permearam a publicação de Raízes dó Brasil e a
profissionalização de Sérgio Buarque como escritor. Esse fato é importante para
se entender que a dificuldade da difusão do Raízes do Brasil foi causada em
especial por Jorge Amado que acreditava que esse livro não ultrapassaria os
círculos intelectuais ficando preso a eles.
Análise de Marcus V. C. Carvalho, sobre a obra
Pode se
interpretar o surgimento do Raízes do Brasil como uma tentativa de se
equacionar as questões que surgiram entre os meios intelectuais da qual Buarque
também fazia parte. Sendo apenas um esforço de interpretar a especificidade
“americanista”, buscando “originalidade nacional” para se entender a os
elementos constituintes da” formação nacional”.
Sérgio Buarque de
Holanda Buscava uma interpretação da tradição nacional, contrariando a ideia de
alguns intelectuais, como Graça Aranha e Ronald de Carvalho, que acreditavam
que a formação do Brasil aconteceu graças a minúsculos grupos intelectuais.
Segundo Buarque
seu livro pode ser interpretado como um “estudo compreensivo”. Onde segundo ele
o Brasil foi o único país, no mundo, bem sucedido na transplantação da cultura europeia
para os trópicos, a única “civilização nos trópicos”. Isso influenciou as
formas de se viver, de se relacionar e de visão do mundo dos brasileiros.
Esse fato criou a ideia
de incompatibilidade entre essas “formas culturais europeias” e o calor
tropical, que desde os primórdios da colonização portuguesa até Sérgio Buarque
acreditava-se que nós “somos desterrados em nossa terra”. Nunca nos
adaptaríamos ao Brasil e sempre nos sentíramos estrangeiros.
Além da
problemática entre “imitação” e “originalidade”. Onde começa e onde acaba a
cultura europeia no Brasil, e onde começa e onde a nossa própria cultura da
qual nos orgulhamos? Então é necessário que se estabeleça as fronteiras entre
uma e outra, para a partir daí investigar e alimentar nossa própria cultura.
Sérgio Buarque buscava uma interpretação da
tradição nacional propriamente brasileira, para assim acabar com a ideia de que
nós brasileiros somos “desterrados em nossa própria terra”, reforçando assim o
sentido de pertencimento, do brasileiro a uma tradição e uma cultura que seja
100% nossa.
Segundo Carvalho,
há elementos que comprovem a influência de Wilhelm Dilthey sobre Holanda, no
entendo ele não faz nenhuma referência direta a Dilthey no Raízes do Brasil.
Suas primeiras referências a ele aparecerão somente na década de 50.
Em Raízes do
Brasil há três núcleos conceituais: Tradição, Cultura e Vida que Holanda
utiliza para estruturar seu “estudo compreensivo”.
Esses núcleos se
apresentam bem claros no início do Raízes do Brasil, quando o autor critica a
tentativa de importar “sistemas de outros países modernos”. Já que Sérgio
Buarque acredita que uma cultura só absorve outra quando encontra uma
possibilidade de ajuste aos seus “quadros de vida”
Tradição:
Sérgio Buarque
apresenta a “tradição” como um fio temporal a ser “atualizado” mediante os
“quadros de vida”. Uma tradição só é atualizada quando é entendida pelas
próximas gerações, fato este, que não é controlado e ocorre de forma
espontânea.
Tradição Ibérica.
Os ibéricos apesar
de sua antipatia pelo “culto ao trabalho” e ao “culto pela atividade
utilitária”, tinham uma pequena capacidade de organização social.
E essa ausência de
amor ao trabalho era compensada pelas vinculações emotivas no recinto doméstico
ou entre amigos. Resultando no fato de que a obediência seria a suprema virtude
e o único princípio político verdadeiramente relevante.
O Brasil é
fortemente influenciado por essa tradição.
A colonização
portuguesa foi feita no Brasil por homens aventureiros, que ignoravam
fronteiras e “colhiam o fruto sem plantar, a árvore” e não por homens
trabalhadores.
Esse tipo de
colonização foi decisivo para a vida nacional.
Esses aventureiros
aclimataram-se rapidamente, aprendendo muitas técnicas indígenas.
Diferentemente dos
espanhóis que não conseguiram se ambientar na América.
Essa facilidade de
ambientar, segundo Buarque, vem do sangue português que já era um sangue
mestiço, esse fato foi determinante para o não alastramento da ideia de orgulho
racial entre os portugueses. Sendo este também o motivo das instituições
escravistas no Brasil, segundo Sérgio Buarque, serem tão brandas e moles
permitindo a entrada da influência negra dentro de suas residências.
Portanto para
Sérgio Buarque a “´plasticidade social” portuguesa implicava em uma somatória
do personalismo, do espírito aventureiro e da mestiçagem estabelecendo um
embasamento psicofísico para formular sua noção de formas de vida.
Ruralismo.
O ruralismo é mais
um nível da persistência cultural da forma de vida portuguesa no Brasil.
A nostalgia dos
laços afetivos deixou vestígios patentes em nossa sociedade, em nossa política
e em todas as nossas atividades.
Devido à falta de
trabalho manual livre e com uma classe média incipiente, os antigos senhores
rurais assumiram o domínio das funções públicas, estendendo seu domínio rural,
patriarcal e doméstico para as instituições estatais.
A noção de homem
cordial foi emprestada de uma Carta de Ribeiro Couto ao mexicano Alfonso Reyes,
que sintetizava a visão de mundo personalista e da forma de vida ruralista.
Para o homem
cordial é quase impossível participar das formas ritualistas do convívio
social, como a atitude polida.
O homem cordial
apenas utiliza-se da polidez como uma máscara para manter sua supremacia frente
o social.
Sérgio Buarque
criticava os Positivistas e os liberais democráticos, pois, estes acreditavam
que a democracia no Brasil era um lamentável mal-entendido. E para ele a
abolição em 1888, representou o fim do predomínio agrário e a Proclamação da
República logo em seguida tentou responder aos anseios desse fato. Esses
acontecimentos seriam os mais revolucionários de nossa história nacional,
apesar de lento deixa-se para traz essa tradição ibérica no Brasil e começa a
se formar uma cultura própria no estilo americano.
Os traços ibéricos
ainda não haviam sido abolidos pelas próprias insuficiências do americanismo.
Um ponto chave
para o afastamento entre a tradição ibérica é a tentativa de respostas e
soluções espontâneas e americanistas, sem a utilização de métodos europeus.
Sites Pesquisados.
http://www.unicamp.br/siarq/sbh/
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2002/07/03/001.htm
Bibliografia.
HOLANDA; Sérgio
Buarque de: “Raízes do Brasil”. SP. Cia das letras, 2002. Pág.141-151.
CARVALHO; Marcus
Vinicius Corrêa: “Outros Lados Sérgio Buarque de Holanda crítica literária,
história e política (1920-1940)”.Tese de doutorado publicada pela UNB
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