quarta-feira, 21 de março de 2018

Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Júnior. 10º Capítulo.


Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Júnior. 
Cap. 10: Pecuária
(P.186) A carne tem um importante papel na alimentação da colônia. Contudo, não são raros os desabastecimentos e a escassez do produto dado seu enorme consumo.
(P.187) Este comércio e consumo avultados são propulsores de uma das principais atividades da colônia: a pecuária. Única, fora as destinadas a exportação, que tem alguma importância.
É a atividade do sertão, longa das vistas da população litorânea. A agricultura povoou o litoral, a extração natural o extremo norte, a mineração o centro-sul e a pecuária todo o resto.
A pecuária realizou-se separadamente da agricultura, privando a segunda do melhor fertilizante: o esterco. Além disso a agricultura para a exportação tomou as melhores terras e monopolizou a mão-de-obra.
(P.188) Como não poderia deixar de ser, a pecuária realizou-se de maneira rustica e simples, criando o gado solto em grandes pastagens do interior.
(P.189) No início do século XIX existiam três grandes zonas de criação de gado: os sertões nordestinos, o meridiano mineiro e as planícies do sul. Cada um com características próprias. Além de zonas pecuárias secundárias de menor importância.
(P.190) O nordeste é a zona de criação mais antiga da colônia. O sertão nordestino possuí uma vegetação de fácil penetração, além de regiões salinas onde o gado se nutre de sal. A pecuária visava atender a demanda por carne do litoral brasileiro. Como desvantagem desta região temos a pobreza da pastagem e a falta d’agua.
(P.194) O gado vivia solto a maior parte do tempo e o maior trabalho do vaqueiro era manter o rebanho sob suas vistas.
A produtividade era extremamente baixa relativamente a imensa área ocupada. A mortandade do gado era alta e a carne gerada era de bois magros e musculosos (intragável).
(P.196) A carne seca tornou-se o principal produto da pecuária nordestina, até a chegada da charque rio-grandense. Outro produto importante eram os derivados de couro.
A produção de carne em Minas para os centros mineradores e as sucessivas secas do século XVIII dão um brutal golpe na pecuária nordestina, da qual ele não se recuperará nunca mais. O Rio Grande do Sul ocupará o seu lugar.
(P.197) O gado mineiro irá fixar-se primeiro no norte (próximo à Bahia) e chega até a fronteira de São Paulo. As pastagens não são tão ricas, mas há rios abundantes e ciclos de chuva mais razoáveis. O problema é o relevo mais acidentado desta região do país. Mas de um modo geral há um conjunto de circunstancias favoráveis a criação de gado neste ambiente.
(P.198) A criação em Minas Gerais será muito mais complexa e bem aparelhada do que a do nordeste. Um exemplo é que o gado é cercado, há divisórias entre as fazendas o que reduz a necessidade de vigilância constante sobre o gado, dispensando o épico trabalho do vaqueiro. As pastagens são divididas em lotes para o descanso e recuperação da terra e as vacas são separadas dos touros, além de haver o recolhimento noturno dos animais para os currais.
(P.200) Os laticínios, desconhecidos no Norte/Nordeste, possuem importância considerável na economia mineira. Outra diferença é que o trabalho empregado nestas fazendas é o escravo, enquanto que no nordeste predomina o livre. Mas um diferencial chama a atenção, o dono da fazenda trabalhava junto com os escravos.
(P.202) Outro produto de suma importância criado em MG é o porco, que além do alimento fornece a banha, universal matéria graxa da culinária brasileira. Além de carneiros, com o qual com a lã se faz a roupa dos escravos.
Por último os campos do sul. Desde o Paranapanema até os pampas. Ótimas pastagens, clima favorável, incontáveis fontes de água, geografia, relevo, condições perfeitas para a criação da gado.
(P.204) O sul do Brasil, em especial o Rio Grande, foi colonizado pelos portugueses tardiamente e só depois de muita luta contra os espanhóis, jesuítas e índios (1733-1777). A guerra levou a criação de sesmarias (queira-se ocupar as terras em definitivo), mas inúmeras tramoias levaram a concentração das terras em poucas mãos.
Contudo, a pecuária se firma com extrema rapidez nesta região. Inicialmente visando a produção de couro e desprezando a carne (não havia demanda suficiente no sul), e o gado criado era semibravil como no nordeste. Aos poucos a carne vai ganhando importância através da charque. Dando um boom econômico apenas visto na mineração. Pelotas é o centro gravitacional deste movimento.
(P.206) A pecuária rio-grandense estava no mesmo nível tecnológico da nordestina, salvo é claro as melhores condições naturais da região sul.
(P.209) As demais zonas criatórias do Brasil são de segunda importância.
Fonte: PRADO JÚNIOR, Caio: Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo. Ed Brasiliense. 7ª reimpressão, da 23ª edição de 1994. Pág 186-209.

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