sexta-feira, 9 de março de 2018

Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Júnior. 8º Capítulo.


Cap. 08: Agricultura de subsistência
(P.157) A economia colonial foi dividida por Caio Prado Jr entre lavoura exportadora e agricultura de subsistência, a segunda era destinada ao consumo interno e a manutenção da própria colônia. Enquanto no primeiro predomina o sistema plantation (latifúndio, monocultura e trabalho escravo), no segundo predominam outros tipos de estrutura agrária, bem mais variados.
 E apesar dos dois tipos serem consumidos internamente e também exportados, a grandeza da exportação de um se sobrepõe de tal maneira que fica impossível confundi-los.
A aguardente é um subproduto da cana usado internamente e para o escambo por escravos africanos.
(P.158) O algodão e o arroz, embora produzidos para exportação eram largamente consumidos na colônia.
Devemos entender que a linha que divide a produção para exportação e para a subsistência é muito clara. Em primeiro lugar a agricultura de subsistência está dentro das terras do engenho para alimentar os que ali trabalham. Podem ser plantadas em meio a cultura principal (milho+algodão ou mandioca+cana) ou em terras exclusivas para ela. O trabalho era escravo, utilizando cativos que não estavam trabalhando a cultura principal naquele momento, ou sem terras cedidas pelo senhor para que o escravo cultivasse sua roça no domingo.
As fazendas de gado do nordeste também eram autônomas e a agricultura acontecia as margens dos rios.
(P.159) Para atender as cidades surgem lavouras especializadas dedicadas ao seu abastecimento. Podendo ser fazendas, roças, chácaras ou sítios (onde não há escravos ou assalariados e onde o dono da terra é ao mesmo tempo o trabalhador). Esta terra pode ter um dono ou um ocupante (agregado a quem o proprietário cede um pedaço de terra à troca de uma espécie de vassalagem).
Este setor subsidiário da economia colonial e dependente da grande lavoura, é de baixo nível econômico, vegetativo e precário, pouco produtivo e sem vitalidade. Em geral estas propriedades circundam as grandes cidades, que é seu polo consumidor. Contentando-se por solos inferiores, cansados ou inaproveitáveis para a cana e outras culturas para exportação.
(P.162) Esta agricultura de subsistência também difundiu-se em Minas Gerais, rodeando as minas de ouros e diamantes. E ainda à encontrarmos à beira das estradas de tropeiros e caravanas de vaqueiros que precisavam comer, descansar e alimentar os animais durante a viagem.
(P.163) O desprezo pela agricultura de subsistência vai criar um problema crônico na sociedade colonial: a crise de desabastecimento, carestia e fome. Principalmente no nordeste. Isso ocorre em geral nos momentos de alta dos preços dos produtos da grande lavoura para a exportação, onde todos os esforços são direcionados a ela, e as culturas alimentares são deixadas de lado.
(P.164) Diversas leis foram criadas para prevenir o desabastecimento de gêneros alimentícios (obrigando traficantes de escravos e plantadores de cana a terem cultivos de mandioca), leis prontamente desrespeitadas em tempos de alta nos preços de açúcar.
(P.165) Entre os cultivos alimentares, destaquemos a mandioca (pão da terra – norte/nordeste), o milho (sul/sudeste), o feijão, arroz, peixe e carne seca.
Fonte: PRADO JÚNIOR, Caio: Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo. Ed Brasiliense. 7ª reimpressão, da 23ª edição de 1994. Pág 157-169.

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