quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O Método Socrático (Exemplo)


O Método Socrático tem como base os diálogos, onde o Sátiro de Atenas começa com perguntas aparentemente simples e deslocam o interlocutor de sua zona de conforto. O Objetivo se Sócrates era lançar seu interlocutor em uma espécie de vazio onde novas reflexões poderiam surgir. Como exemplo usaremos o diálogo entre Laques e Sócrates onde este pergunta: o que é a coragem?
“Ora, meu caro Sócrates, não há dificuldade alguma na pergunta – diz Laques – corajoso é aquele que mantém seu posto mesmo sob ataque dos inimigos e não foge.”
“Ótima resposta, Laques. Acho, contudo, que minha pergunta não foi muito clara; a culpa, de certo, é toda minha. Mas devo dizer que sua resposta nada tem a ver com o que lhe perguntei. – Laques fica perplexo – Você me diz que corajoso é aquele que mantém seu posto e não foge ante a investida do inimigo. Mas o que dizer do soldado que luta enquanto foge? Tenho certeza, Laques, que já ouviu falar dos citas[1].”
“Também chamamos de corajosos – continua Sócrates – aqueles que nunca se envolveram em lutas físicas – um marinheiro que enfrenta os perigos do mar, os trabalhadores de minas, etc.”
Muito bem, muito bem – Laques concorda. – A coragem deve ser algo mais amplo do que a capacidade de suportar um ataque inimigo no campo de batalha. Digamos, então, que coragem seja uma espécie de perseverança do espírito; isto se aplica a todos os casos que você mencionou.”
Contudo, Sócrates também desmancha esse argumento, de forma igualmente cordial e implacável, fazendo com que o próprio interlocutor, de resposta em resposta, contradiga a si mesmo.
“Laques, você acha que a coragem é algo bom ou algo reprovável?”
“Algo bom, certamente.”
“E quanto à tolice? É também uma coisa boa?”
“De forma alguma, Sócrates. A tolice é reprovável.”
“Imaginemos agora dois homens. Um sabe mergulhar, o outro nunca entrou na água. Ambos são desafiados a fazer um mergulho até o fundo do mar. Ambos aceitam o desafio, com grande perseverança de espírito. Qual dos dois é o mais corajoso?”
“O que não sabe mergulhar, é claro.”
“Contudo, qual é o mais tolo? O que tem o devido conhecimento técnico das artes do mergulho, ou o que se enfia na água sem mal saber nadar?”
“O mais tolo, nesse caso, é o mergulhador diletante.”
“Você havia dito que coragem é algo bom, enquanto a tolice reprovável. Mas agora chegamos à conclusão de que, nesse caso, o mais corajoso não é o mais perseverante, e sim o mais tolo.”
É fato Sócrates.
“Você continua achando que sua definição está correta?”
“De forma alguma. Eu estava errado. Que coisa estranha, Sócrates! Parece que não consigo expressar em palavras o que parecia claro em meus pensamentos; sinto que sei o que é coragem, mas, se tento defini-la, ela me passa a perna e foge de mim.”
“Ora, meu caro Laques, sejamos então como o bom caçador, que jamais desiste de perseguir sua presa. Tenhamos perseverança de espírito. Avante!”

Referências.
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015.



[1] Citas: povo guerreiro da Ásia Central, muito conhecidos por sua tática de atirar flechar para trás enquanto recuavam. Técnica muito difícil e perigosa de ser realizada.

Sócrates: “só sei que nada sei”.


Ao ouvir a história de que o oráculo o havia tido como o homem mais sábio de todos, Sócrates mergulhou em um turbilhão mental. Logo ele, que dizia não saber nada, era apontado pelos deuses como o mais sábio dos mortais! Vejamos o que o próprio Sócrates nos conta, segundo o relato dado por Platão na obra Apologia – presta bem atenção, pois este é um dos parágrafos essenciais na história da filosofia:


“Ora bolas, eu tinha certeza absoluta de que não era sábio; tudo o que eu sabia é que não sabia de coisa alguma. O que o deus queria dizer, portanto, ao me designar como o mais sábio dos humanos? Os deuses nunca mentem. Por algum tempo, fiquei embasbacado, sem saber o que pensar. Então, embarquei em minha busca. Fui conversar com certo cavalheiro, um político, considerado por todos (especialmente, por ele mesmo) como profundamente sábio. Após conversarmos por algum tempo, comecei a perceber que a reputação era imerecida; o sujeito, na verdade, não tinha sabedoria nenhuma. Tentei alertá-lo sobre esse fato, mas ele ficou furioso. Então, fui embora; mas levei comigo essa reflexão: por mais ignorante que eu seja, ao menos sou mais sábio do que esse homem. O mais provável é que nenhum de nós saiba coisa alguma; mas ele pensa saber, enquanto eu estou consciente de que não sei nada”.

Referências.
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015.