quarta-feira, 21 de maio de 2014

Os significados ambíguos do populismo Latino-americano de Carlos de la Torre.

Vargas, Perón e Rujas: exemplos dos governos populistas estabelecidos no continente americano.
A ideia deste trabalho é explicar o populismo de forma a não reduzir os líderes e seus seguidores a simples ideia de manipulação e de anomalia.
Na América Latina o conceito de populismo é vasto e varia de autor para autor, por exemplo, ele pode ser definido como: 1) formas de mobilização sociopolítica em que as massas atrasadas são manipuladas por líderes demagógicos e carismáticos. 2) Movimentos sociais multiclassista com  liderança na classe média ou alta com passe popular operária e/ou camponesa. 3) Uma fase histórica no desenvolvimento dependente da região ou uma etapa na transição para a modernidade. 4) Politicas estatais redistributivas, nacionalistas e excludentes. Essas politicas beneficiam o capital nacional em detrimento do estrangeiro. 5)Tipo de partido político com liderança nas classes médias ou alta com base popular forte e retórica nacionalista, com a presença de um líder carismático e sem uma definição ideológica precisa. 6) Um discurso político que divide a sociedade em dois campos antagônicos: o povo contra a oligarquia. 7) Intenções das nações latino-americanas de controlar os processos de modernização que vem do exterior, fazendo com que o Estado tomo lugar central na defesa da identidade nacional e como promotor da integração através do desenvolvimento econômico.
Por mais vastos que os conceitos de populismo podem ser, alguns autores como Roxborough e Rafael Quintero propõem que o populismo deve ser entendido como uma etapa do desenvolvimento latino-americano ligado ao processo de substituição das importações, além de entenderem que as visões que privilegiam a ideia da existência de um líder carismático e massas anônimas disponíveis ou de analises baseadas nas alianças de classes sejam descartadas.
Condições pré-estruturais dos populismos.
Os primeiros estudos sobre os populismos latino-americanos, influenciados por estas teorias de modernização e dependência, trabalharam em especial com a Argentina, o Brasil e o México nas décadas de trinta e quarenta. Neste período, estes países passaram por processos de substituição das importações associadas ao surgimento do peronismo, do varguismo e do cardenismo.
A análise das experiências históricas populistas, não deve nos levar ao erro de ver o populismo como somente um fenômeno do passado. O sucesso eleitoral de alguns lideres populistas a partir do ultimo processo de transição para a democracia na região é um exemplo.
A sedução populista.
É importante diferenciar o populismo como regime no poder, da análise do populismo como movimento social e politico dos movimentos eleitorais populistas. Para entender a sedução que os lideres populistas provocam e as expectativas autônomas de seus seguidores devemos ter em mente: 1) A personalidade do líder carismático, 2) O discurso político maniqueísta, 3) mecanismos de articulação líder-base clientelista e patronal, 4) analise sócio-histórica do populismo.
Liderança Populista.
O líder populista se identifica totalmente com a sua pátria, a nação e o povo em sua luta contra a oligarquia. O líder devido a sua honestidade, força de vontade garantirá o cumprimento dos desejos populares. O vínculo que une o líder aos seus seguidores é místico. O líder é a projeção simbólica do ideal.
Os atributos pessoais do líder é o segundo elemento do líder carismático. A sua aparência física. Os líderes carismáticos invocam mitos. Através da metáfora são assimilados a ícones de suas culturas. Exemplos de Evita como a Madre Dolorosa ou de Ibarra, ou de Haya de la Torre como Cristos Redentores.
Discurso maniqueísta: o povo contra a oligarquia.
Ernesto Lacau introduz a análise do discurso como uma ferramenta para entender os significados ambíguos do populismo. Ele analisa como Perón se apropriou de uma série de criticas ao liberalismo e em seu discurso confrontou antagonicamente o povo contra a oligarquia.
O discurso populista possui as seguintes características: 1) sua temática é centrada explicitamente no problema de controle das estruturas institucionais, do Estado e do poder. 2) São discursos polêmicos que têm o objetivo de refutar e desqualificar o discurso do opositor. 3) Incluem um certo calculo de seus efeitos ideológicos e políticos imediatos.
A característica básicas do discurso e da retórica populistas é que ele radicaliza o elemento emocional em todo discurso político. Pois o discurso não quer notificar, nem explicar, mas somente persuadir.
Como dito anteriormente, o discurso populista divide a população em campos antagônicos: O povo contra a oligarquia. E este discurso é marcado pelo moralismo, religiosidade e intransigência frente estas oligarquias que devem ser destruídas.
Outro elemento interessante, é que os líderes populistas incorporam em seus discursos bordões e elementos da cultura popular. Um exemplo clássico são os “descamisados”, que de expressão pejorativa, tornou-se símbolo do povo argentino, nos discursos de Perón.
Mecanismos de Clientelismo e Patrocínio.
Os estudos que privilegiam o carisma do líder populista, não estudam os mecanismos concretos da articulação eleitoral e portanto outorgam todo o peso explicativo à figura e ao discurso político do líder. Isso é possível quando se entende que os atores envolvidos são massas irracionais e anônimas.
Os estudos que usam o conceito de clientelismo político, descartam o elemento irracional dos setores marginalizados e demonstram a sua racionalidade no fato de que por muitas vezes o clientelismo conquistou mais votos que o carisma. Contudo, devemos entender que o clientelismo, mais do que trocar votos por serviços cria um sentimento de pertencimento e identidade.
É necessário ainda diferenciar analiticamente os fenômenos populistas em movimentos eleitorais e movimentos sociais, uma vez que não foram todos que participaram das campanhas que votaram. No Brasil, por exemplo, em 1933 somente 4,1% da população votava. Isso mostra como a mensagem populista transcendeu o reduzido numero de eleitores.
Talvez a melhor forma de resolver essa falso dilema: Carisma versus clientelismo seja analisando estes fenômenos conjuntamente. O líder articula valores, reivindicações e cria novas linguagens. Por sua vez, a organização política articula estratégias para a captura de voto. Estas formas de ação política diferentes se complementam em processos políticos concretos.
História social do populismo.
Os estudiosos do populismo vêm tentando entender as ações dos seguidores dos líderes populistas. Alguns buscam inseri-los na concepção de sociedade de massa, outros na racionalidade instrumental de seus seguidores, outros em questões ideológicas.
Conclusões: Os paradoxos do populismo para a democracia.
Ao longo deste ensaio os autores buscaram enfatizar a necessidade de estudar os significados ambíguos e contraditórios das experiências populistas.
Aqui foi proposta a análise histórico-social da ação coletiva que gerou este movimentos, assim como os discursos políticos da época. Esta proposta ainda levou em consideração tanto os discursos do líder, como as respostas e expectativas de seus seguidores.
Isso possibilitou aos autores chegaram a conclusão de que o principal efeito do populismo foi o acesso de grandes grupos sociais à dignidade simbólica de ser alguém, de ser humano em uma sociedade excludente e racista.

Fonte:
Alvarez Junco, José y González Leandri, Ricardo (comps.), El populismo em España y América, Madrid, Catriel, 1994.

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