1922:
a crise econômica*.
Ocorre em 1922 uma crise do café,
uma inflação alta e especialmente uma crise fiscal. É o final do governo
Epitácio Pessoa que apesar de ter começado com grandes esperanças de
prosperidade, deixou a desejar.
Da esquerda para a direta: Epitácio Pessoa (1919-1922), Arthur Bernardes (1922-1926) e Washington Luís (1926-1930). |
É nesse clima que surge ou é
renovado o acordo Minas – São Paulo, que garante a eleição do mineiro Arthur
Bernardes a presidência, mas dá aos paulistas o controle da economia com
Sampaio Vidal no Ministério da Fazenda e Cincinato Braga no Banco do Brasil.
1922 é, portanto, um ano de crise
que gerou uma reação. Reação de continuidade do regime e formalização da
política do café-com-leite. 1922 é também o ano de auge da crise econômica que
começou em 1920. Crise está caracterizada na dependência do país em um só
produto primário de exportação. O café.
Em 1918 houve uma imensa geada.
Portanto em 1919 os estoques de café estavam baixos. Com o fim da guerra a demanda
por café na Europa aumentou. Estes fatores contribuíram para a extrema alta no
preço do café.
Graças a essa alta, uma enorme
quantidade de receita, fruto das exportações do café, entraram no país.
Justamente em uma época em que a indústria queria investir. Aumentou-se também
as importações de bens de capital. Esse crescimento tem um bom impacto sobre as
arrecadações do governo, que com o dinheiro extra, inicia grandes obras pelo
país.
O programa de obras de Epitácio
Pessoa tem duas bases: primeiramente, um grande programa de obras contra a seca
no nordeste e diversas obras na capital brasileira[1]
que receberia em 1922 a Exposição do Centenário.
Todas essas perspectivas em torno
do governo Epitácio, despareceram como mágica com o início da crise mundial. Este
período ficou conhecido na literatura sobre o tema como o período do boom e recessão do pós-guerra.
A recessão começou quando os países
europeus perceberam que a geração de empregos, no pós-guerra, não foi tão alta
quanto imaginavam que seria. Somado ao fato de que o crescimento dos países não
afetados diretamente pela guerra foi tão rápido que enfraqueceu as moedas
europeias dificultando o combate a inflação herdada da guerra.
Começa então, uma reação
conservadora muito mais preocupada com a revalorização da moeda e com a solidez
financeira do que com a criação de novos empregos. Esse conservadorismo
monetário e fiscal levam a reversão do boom
e tem efeitos devastadores sobre o café.
A reversão provoca uma queda nos
preços de commodities[2],
principalmente o café que em 1920 já estava com o estoque normal e viu uma
queda drástica na demanda. O preço do café que vinha subindo enormemente em
1920, parou de aumentar no 3º semestre e despencou no final do ano.
Exatamente naquela hora, Epitácio
havia iniciado um programa de metas que implicava compromissos políticos que
ele não podia mais suspender.
A crise de 1920-1922, em termos de
efeitos sobre os preços em nível de atividade internacional, é mais severa que
a Grande Depressão. A variação dos preços internacionais e do desemprego é
maior em termos de amplitude. É uma crise mais rápida que não tem os efeitos
perversos, em cadeia ocorridos em 1929-1932. Não houve reações protecionistas,
a economia mundial não foi descendo lentamente pelo abismo. Houve um choque
muito violento. A econômica voltou a crescer em 1922, mas este foi um período
muito duro.
No Brasil os efeitos são
duríssimos. Primeiro, há uma enorme desvalorização cambial nunca vista em toda
história da República. As importações caem e junto com ela a arrecadação do
governo. Há uma depreciação rápida do câmbio que encareceu as importações e
aumentou a inflação.
Em resumo, o que aconteceu no
Brasil, foi um enorme desequilíbrio financeiro do governo. Para piorar
cessam-se também os empréstimos estrangeiros ao país. Sobrando apenas um meio
de financiar o déficit: a emissão de moeda ou a colocação de títulos da dívida pública
no mercado. Isso aumenta o desequilíbrio financeiro e alimenta a inflação.
A rapidez no colapso dos preços
reacende, entre 1921 e 1922 a pressão paulista em defesa do café. Bancar o café
significava mais gastos públicos para comprar estoques e segurar os preços. Mesmo
assim, o governo de Epitácio cede, por duas razões: 1) atender aos interesses
corporativos dos cafeicultores. 2) ao apoiar o café, firma-se um acordo de que
não se interromperiam as obras no nordeste.
Ao final do governo de Epitácio o
Estado apresenta um absoluto desequilíbrio fiscal. A defesa do café, no
entanto, apresenta um efeito positivo: segurando os preços do café, corta-se o
desequilíbrio da balança de pagamentos, que está na base do desequilíbrio
fiscal.
A aliança política de Arthur
Bernardes, com Sampaio Vidal e Cincinato Braga é clara: o governo deve fazer a
defesa permanente do café. Constroem-se armazéns e ferrovias. E todo o discurso
de austeridade fiscal de Bernardes vai por água abaixo.
Em 1923, há novamente pressão. O
Banco Central tornou-se uma máquina de financiar café. O país se vê à beira de
mais uma crise fiscal. E para proteger a república pede-se um empréstimo ao
governo Inglês. A Inglaterra concorda, contudo o governo brasileiro deve
abandonar a política de defesa do café. Bernardes concorda, e em 1924, há um
racha no acordo Minas-São Paulo.
Os mineiros, ao contrário dos
paulistas, sempre derivaram seu poder na Primeira República do controle dos
recursos públicos. Não havia em Minas uma burguesia, plutocrata[3]
e de origem fazendeira como em São Paulo. Em Minas haviam políticos de carreira
e cultivava-se a ideia de que o equilíbrio fiscal era algo a ser preservado. É
assim que Bernardes ejeta Sampaio Vidal e Cincinato Braga sem a menor cerimônia.
E consegue, em dois anos de um rígido programa de austeridade, restaurar o
equilíbrio fiscal.
O fim do governo Bernardes é
interessante. Quando ele ejeta os paulistas, abre mão, de modo totalmente
unilateral, da responsabilidade federal pela defesa do café e posteriormente entrega
o governo a São Paulo.
Porém, neste período de ajuste
fiscal surge um problema. A economia mundial cresce, e começa a ter um embaraço
de riquezas. Tem-se um excesso de cambiais, e a taxa de cambio começa a se
valorizar de novo. Bernardes acha bom, mas o setor produtivo não. Cafeicultores
e empresário da área têxtil começam a fazer pressão pela estabilização da moeda
e pela volta do padrão-ouro. Washington Luís ouve estas reivindicações e se
elege presidente.
*Texto reduzido por mim.
Referência:
FRITSCH, Winston. 1922: a crise econômica. In:_____. Estudos Históricos, v. 6, n. 11, Rio de Janeiro: CEPDOC, 1993. P.3-8.
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[1]
Rio de Janeiro
[3] Pessoa
influente ou preponderante pelo seu dinheiro.
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