segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Crise Econômica de 1922


1922: a crise econômica*.
Ocorre em 1922 uma crise do café, uma inflação alta e especialmente uma crise fiscal. É o final do governo Epitácio Pessoa que apesar de ter começado com grandes esperanças de prosperidade, deixou a desejar.
Da esquerda para a direta: Epitácio Pessoa (1919-1922), Arthur Bernardes
(1922-1926) e Washington Luís (1926-1930).
É nesse clima que surge ou é renovado o acordo Minas – São Paulo, que garante a eleição do mineiro Arthur Bernardes a presidência, mas dá aos paulistas o controle da economia com Sampaio Vidal no Ministério da Fazenda e Cincinato Braga no Banco do Brasil.
1922 é, portanto, um ano de crise que gerou uma reação. Reação de continuidade do regime e formalização da política do café-com-leite. 1922 é também o ano de auge da crise econômica que começou em 1920. Crise está caracterizada na dependência do país em um só produto primário de exportação. O café.
Em 1918 houve uma imensa geada. Portanto em 1919 os estoques de café estavam baixos. Com o fim da guerra a demanda por café na Europa aumentou. Estes fatores contribuíram para a extrema alta no preço do café.
Graças a essa alta, uma enorme quantidade de receita, fruto das exportações do café, entraram no país. Justamente em uma época em que a indústria queria investir. Aumentou-se também as importações de bens de capital. Esse crescimento tem um bom impacto sobre as arrecadações do governo, que com o dinheiro extra, inicia grandes obras pelo país.
O programa de obras de Epitácio Pessoa tem duas bases: primeiramente, um grande programa de obras contra a seca no nordeste e diversas obras na capital brasileira[1] que receberia em 1922 a Exposição do Centenário.
Todas essas perspectivas em torno do governo Epitácio, despareceram como mágica com o início da crise mundial. Este período ficou conhecido na literatura sobre o tema como o período do boom e recessão do pós-guerra.
A recessão começou quando os países europeus perceberam que a geração de empregos, no pós-guerra, não foi tão alta quanto imaginavam que seria. Somado ao fato de que o crescimento dos países não afetados diretamente pela guerra foi tão rápido que enfraqueceu as moedas europeias dificultando o combate a inflação herdada da guerra.
Começa então, uma reação conservadora muito mais preocupada com a revalorização da moeda e com a solidez financeira do que com a criação de novos empregos. Esse conservadorismo monetário e fiscal levam a reversão do boom e tem efeitos devastadores sobre o café.
A reversão provoca uma queda nos preços de commodities[2], principalmente o café que em 1920 já estava com o estoque normal e viu uma queda drástica na demanda. O preço do café que vinha subindo enormemente em 1920, parou de aumentar no 3º semestre e despencou no final do ano.
Exatamente naquela hora, Epitácio havia iniciado um programa de metas que implicava compromissos políticos que ele não podia mais suspender.
A crise de 1920-1922, em termos de efeitos sobre os preços em nível de atividade internacional, é mais severa que a Grande Depressão. A variação dos preços internacionais e do desemprego é maior em termos de amplitude. É uma crise mais rápida que não tem os efeitos perversos, em cadeia ocorridos em 1929-1932. Não houve reações protecionistas, a economia mundial não foi descendo lentamente pelo abismo. Houve um choque muito violento. A econômica voltou a crescer em 1922, mas este foi um período muito duro.
No Brasil os efeitos são duríssimos. Primeiro, há uma enorme desvalorização cambial nunca vista em toda história da República. As importações caem e junto com ela a arrecadação do governo. Há uma depreciação rápida do câmbio que encareceu as importações e aumentou a inflação.
Em resumo, o que aconteceu no Brasil, foi um enorme desequilíbrio financeiro do governo. Para piorar cessam-se também os empréstimos estrangeiros ao país. Sobrando apenas um meio de financiar o déficit: a emissão de moeda ou a colocação de títulos da dívida pública no mercado. Isso aumenta o desequilíbrio financeiro e alimenta a inflação.
A rapidez no colapso dos preços reacende, entre 1921 e 1922 a pressão paulista em defesa do café. Bancar o café significava mais gastos públicos para comprar estoques e segurar os preços. Mesmo assim, o governo de Epitácio cede, por duas razões: 1) atender aos interesses corporativos dos cafeicultores. 2) ao apoiar o café, firma-se um acordo de que não se interromperiam as obras no nordeste.
Ao final do governo de Epitácio o Estado apresenta um absoluto desequilíbrio fiscal. A defesa do café, no entanto, apresenta um efeito positivo: segurando os preços do café, corta-se o desequilíbrio da balança de pagamentos, que está na base do desequilíbrio fiscal.
A aliança política de Arthur Bernardes, com Sampaio Vidal e Cincinato Braga é clara: o governo deve fazer a defesa permanente do café. Constroem-se armazéns e ferrovias. E todo o discurso de austeridade fiscal de Bernardes vai por água abaixo.
Em 1923, há novamente pressão. O Banco Central tornou-se uma máquina de financiar café. O país se vê à beira de mais uma crise fiscal. E para proteger a república pede-se um empréstimo ao governo Inglês. A Inglaterra concorda, contudo o governo brasileiro deve abandonar a política de defesa do café. Bernardes concorda, e em 1924, há um racha no acordo Minas-São Paulo.
Os mineiros, ao contrário dos paulistas, sempre derivaram seu poder na Primeira República do controle dos recursos públicos. Não havia em Minas uma burguesia, plutocrata[3] e de origem fazendeira como em São Paulo. Em Minas haviam políticos de carreira e cultivava-se a ideia de que o equilíbrio fiscal era algo a ser preservado. É assim que Bernardes ejeta Sampaio Vidal e Cincinato Braga sem a menor cerimônia. E consegue, em dois anos de um rígido programa de austeridade, restaurar o equilíbrio fiscal.
O fim do governo Bernardes é interessante. Quando ele ejeta os paulistas, abre mão, de modo totalmente unilateral, da responsabilidade federal pela defesa do café e posteriormente entrega o governo a São Paulo.
Porém, neste período de ajuste fiscal surge um problema. A economia mundial cresce, e começa a ter um embaraço de riquezas. Tem-se um excesso de cambiais, e a taxa de cambio começa a se valorizar de novo. Bernardes acha bom, mas o setor produtivo não. Cafeicultores e empresário da área têxtil começam a fazer pressão pela estabilização da moeda e pela volta do padrão-ouro. Washington Luís ouve estas reivindicações e se elege presidente.
*Texto reduzido por mim.
 Referência:
FRITSCH, Winston. 1922: a crise econômica. In:_____. Estudos Históricos, v. 6, n. 11, Rio de Janeiro: CEPDOC, 1993. P.3-8.


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[1] Rio de Janeiro
[2] Produtos “in natura” provenientes de cultivo ou de extração.
[3] Pessoa influente ou preponderante pelo seu dinheiro.

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