terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Meu primeiro conto: O dia em que Antônio conheceu Manu.

Inspirado nos livros de Bukowski resolvi escrever meu primeiro conto. Muito humildemente espero que gostem. Criticas são bem-vindas.

O dia em que Antônio conheceu Manú.
Por: William C. T. Rodrigues
Já passava das onze da noite, o bar estava praticamente vazio como de costume nesse horário, em especial pelo fato de ser um segunda-feira. O dono do bar esperava para encerrar o expediente.
A noite não havia sido muito rentável, os poucos bêbados imundos que apareceram bebiam cachaça e logo se embriagavam com o custo de apenas algumas moedas.
O bar era escuro, fétido e com um nome extremamente de mau-gosto, “toca da onça”. Em todo lado se amontoavam quinquilharias que o dono teimava em chamar de decoração. Havia desde animais empalhados até espingardas cartucheiras que ele dizia ser da época da Guerra do Paraguai.
No fundo do bar, ao lado dos banheiros e encoberto pela sombra do engradados de cerveja, um homem estava sentado tomando seu último gole de conhaque. Sua presença era praticamente imperceptível, sendo denunciada apenas pelo pequeno ponto laranja incandescente que se formava a cada tragada em se cigarro contrabandeado.
O tédio, o passar das horas, a monotonia que o dilacera a cada segundo é algo que lhe dilacera o peito. Claro o que esperar de uma vidinha assim; trabalho pesado durante o dia, embriaguez durante a noite em uma rotina que beira o ridículo da existência, ele não vive apenas existe.
Foi neste momento, perdido em seus pensamentos imbecis de uma pessoa imbecil, que ele notou a chegada de uma mulher ao bar. Ela vacilou e parou alguns minutos na porta. O coração dele bateu mais forte. Ela olhou ao redor e notou meia dúzia de homens feios, embriagados e fedidos. Ele com os olhos vidrados deu mais uma tragada no cigarro, a pequena luz da brasa iluminou seus olhos que refletiram como os de um gato. Ela o notou e caminhou em sua direção.
Ela era extremamente feia, a pela parecia uma uva passa, seus cabelos loiros e ondulados estavam tão ensebados que formavam pequenos dreadlocks nas pontas. Seu caminhar era desajeitado e formava uma combinação perfeita com o velho vestido, o velho sapato e o batom, todos extremamente vermelhos.
A dois passos da mesa ela parou o fitou por alguns segundos e perguntou:
-Qual seu nome?
-Antônio. -respondeu.
-Saia do escuro quero ver seu rosto.
Antônio não respondeu apenas arrastou a mesa meio metro para a luz.
-Nossa você muito bonito!
Ele não era bonito, apenas era menos feio que ela. Tinha traços fortes que remetiam a uma beleza que ficou no passado, mas o trabalho duro no sol e as dificuldades da vida, além do álcool e do tabaco lhe transformaram em um homem de feiura mediana.
-Você acha é? – Perguntou.
-Sim eu acho.
Um sorriso desajeitado surgiu em sua boca murcha de dentes amarelos, deixando sua feiura mediana muito mais mediana.
-Meu nome é Manu. Eae você quer trepar?
-Hã?
-É trepar. Eu cobra “vintão” meia hora. Só estou cobrando porque quero comprar umas rochas.
-É que eu não tenho dinheiro.
-Então “deizão” e eu te faço um boquete.
-Não tenho princesa, hoje mandei pendurar tudo na conta.
Manu levantou as sobrancelhas, olhou Antônio dentro dos olhos por alguns segundos e retirou-se, caminhando na direção de outro homem.
Antônio voltou para a escuridão e escutou quando Manu disse a um senhor de 80 anos de idade ou 40 de cachaça (é difícil distinguir).
- Trinta reais meia hora.
O senhor não disse nada, apenas sacou o dinheiro do bolso e lançou sobre a mesa. Passou o braço sobre seu pescoço e caminhou com ela em direção uma Belina marrom 73 de onde partiram. Com certeza em direção a um canavial que ficava a 10 minutos do bar.
Antônio sentiu uma pontada de ciúmes e pensou consigo mesmo:
-Porra, perdi um boquete.

Fim.

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