sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Estatísticas mentem?

Um grande erro que as pessoas cometem é considerar a estatística como uma prova irrefutável. Quando na verdade ela é passível de erros, maquiagens e manipulações, além de não levar em consideração os diversos contrastes dentro de uma mesma estatística
William Cirilo Teixeira Rodrigues
Sim: elas mentem e é preciso descobrir de onde vem os dados, e o que eles não mostram.

“Existem mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.” A frase, dita pelo primeiro ministro britânico Bemjamin Disraeli (1808-1881), pode ser um tanto exagerada, mas diz muito sobre quanto às pessoas tendem a tomar estatísticas como prova irrefutável de qualquer argumento, e quanto elas podem ser manipuladas para provar um ponto que não é exatamente verdadeiro.(...)
A primeira coisa ao ler sobre uma estatística é saber se ela existe mesmo. Desde sempre, e hoje em dia ainda mais, com a internet, as pessoas tendem a repetir qualquer notícia impressionante que ouvem sem conferir em outras fontes. Notícias que não dão nome, como “universidade americana” ou “cientistas russos”, são às vezes falsas. Por princípio, se uma notícia não revela a fonte, desconfie dela. Quando você sabe a fonte, pode conferir se a pesquisa existe mesmo. Geralmente, institutos de pesquisa e universidades anunciam suas pesquisas em sites - ao menos você pode encontrar um resumo. Tenha em mente que nem todas as fontes são confiáveis: institutos envolvidos com grandes empresas ou partidos políticos podem estar manipulando as informações. As pesquisas patrocinadas pelas empresas de cigarro, geralmente para desdizer os males do fumo passivo, tornaram-se infames nesse requisito.
É importante lembrar que o interesse envolvido, por si só, não prova que uma pesquisa ou qualquer afirmação seja falsa. No máximo, isso coloca a estatística sob suspeita. E é ai que começa o trabalho: descobrir o método e os dados brutos por trás de uma estatística suspeita.
Se alguém afirma, por exemplo, que o número de homicídios numa cidade do interior caiu 50%, pode parecer uma grande notícia. Se alguém  afirma que os homicídios nessa cidade, tão pacífica, foram dois no ano passado, e 1 neste ano, não há notícia alguma. Se eu aumentar o salário dos executivos de minha empresa, que ganharam muito mais que a maioria dos funcionários, isso causa um grande impacto na média dos salários, Mas essa média não diz nada sobre o rendimento real das pessoas nas categorias abaixo. É por isso que estatísticas de renda per capita podem ser enganadoras: elas pegam a soma de todos os rendimentos e dividem pela população. Não dizem nada sobre as diferenças de renda entre as pessoas- se alguns poucos ganham a maioria da renda, e tem famílias menores, a média não diz nada nem sobre os ricos, nem sobre os pobres.
Estatísticas sobre desenvolvimento humano levam em conta renda, acesso a educação e saneamento básico – mas, se a qualidade de ensino é ruim, pode ser que um lugar tenha “alto desenvolvimento”, isto é, formalmente as pessoas tem o segundo grau completo ou muitas vão a universidade, mas essa educação não é boa, o que significa que esse desenvolvimento é ilusório. Em tese, todas as pessoas tem direito a saúde pública no Brasil, mas qual é a qualidade desse atendimento?
Estatísticas são muito úteis, mas é preciso evitar efeito “prova definitiva” que elas tem sobre o ouvinte médio. É preciso manter o senso crítico ligado ao ler estatísticas, assim como ao ouvir qualquer outra notícia.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril.

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