quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Por Deus e pela Pátria

Fé cega, faca amolada!
William Cirilo Teixeira Rodrigues

A religião volta a ser o centro de disputas na século 21.

Em muitos conflitos do mundo contemporâneo, não é fácil separar causas religiosas, políticas e étnicas. Afinal, um dos fatores que fazem um povo ser um povo é a sua religião, e alianças políticas de grupos que buscam independência tendem a ser opostas às dos governantes dos países.(...)

Após a queda da União Soviética, a Chechênia, região de maioria islâmica declarou independência. Entre 1994 e 1996, a Rússia tentou recuperar o que considera um Estado seu, mas acabou perdendo para os ataques de guerrilha dos militantes chechenos. Em 1999, os russos invadiram novamente a pequena república e conseguiu recuperar o território. O conflito foi sangrento e envolveu violações de direitos humanos por parte da Rússia e ações terroristas chechenas, como o ataque ao Teatro Moscou, de 2002, que deixou 170 mortos, e a uma escola em Beslam, em 2004, quando morreram 334 reféns, inclusiva 186 crianças.

O conflito religioso é grave também na Índia, país de maioria hindu que abriga minorias islâmicas, cristãs, budistas, sikhs e bahais. Em 1992, a mesquita de Babri, criada no século 16, foi demolida por nacionalistas hindus. No mesmo ano, conflitos civis nas ruas de Mumbai deixaram 500 mortos. No ano seguinte, ataques a bomba por parte dos islâmicos mataram mais 250 pessoas. A situação entre as religiões se deteriorou.

A indonésia, país de maioria islâmica que abriga também cristãos, budistas e hinduístas, tem sofrido com o aumento de tensões e massacres religiosos desde o fim do governo conciliador de Suharto, em 1998. O conflito pela independência do Timor-Leste (1975-2002), país católico e de língua portuguesa conquistado pela Indonésia após declarar sua independência, também teve um teor religioso.

A China enfrenta o separatismo islâmico na província de Xinjiang. A causa do Tibete, país tomado pela China em 1950, também tem contornos religiosos. O Tibete era uma teocracia budista, cujo rei-sacerdote era o dalai-lama. A China impôs repressão religiosa e é acusada de diversas atrocidades. Nascido em 1935, o 14º dalai-lama, Tenzin Gyatso, vem lutando pela independência de seu país do exílio, na Índia.

Ilha ao sul da índia, o Sri Lanka também foi palco de conflitos. De religião hinduísta, a maioria tâmil, no norte do país buscava independência do país budista por meio de ações do grupo Tigres Tâmeis, fundado em 1974. O Tigres Tâmeis reconhecerem sua derrota em 2009.


Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril.

O cérebro de Deus?

Para o médico norte-americano Frank Lynn Meshberger, a obra é, na verdade, uma perfeita descrição anatômica do cérebro humano.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
A pintura na página ao lado é uma das obras de arte mais famosas da Renascença, talvez a segunda mais conhecida depois da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Figura é um afresco, isto é, pintura feita sobre argamassa ainda úmida, que está no teto da Capela Sistina, em Roma. Chama-se a criação de Adão e foi produzida em 1511, por Michelângelo Buonarroti (1475-1564). Além de famosa, é uma das imagens mais influentes da história. (...)
A versão oficial diz que a pintura é a imagem de Deus concedendo vida a Adão. Observando atentamente, a obra de Michelângelo suscita duas questões. A primeira é que Adão aparentemente já está vivo. A segunda é: por que o manto atrás de Deus não aparece simplesmente um pano esvoaçante?
O médico norte-americano Frank Lynn Meshberger lançou a teoria em 1990 para responder à questão do manto: segundo ele, trata-se de uma perfeita descrição anatômica de um cérebro humano. Como Leonardo da Vinci, Michelângelo se dedicava à ciência da anatomia, isto é, dissecar cadáveres para descobrir como são os humanos por dentro. Da Vinci era também um cientista; Michelângelo não. Seu objetivo era entender a estrutura dos músculos sob a pele e, assim desenhar quadros mais realistas. Era um trabalho quase clandestino. Apesar de a Igreja Católica não ter proibido a dissecação, nem sempre os candidatos a anatomistas conseguiam corpos de indigentes ou condenados a morte. Com isso, muitas vezes, tinham de recorrer a ladrões de cemitério, um crime passível de pena de morte.
A teoria do médico norte-americano, portanto, é que Michelângelo, que trabalhava para a Igreja Católica mas se desentendia com freqüência com bispos e cardeais, estava na verdade, falando da passagem da inteligência, e não de vida, ao ser humano –e, de quebra, fazendo graça com seu trabalho pecaminoso de anatomista.
Michelângelo, com sua pintura, confirmaria o conhecimento da época a respeito do cérebro. O órgão já era considerado o centro da inteligência desde a Grécia antiga, com Hipócrates (460-370 a.C), mas os antigos egípcios, há cerca de 5.000 anos, achavam que o coração era onde residia a mente humana. As múmias tinham o cérebro, considerado um órgão inútil, removido através do nariz, e ainda hoje falamos em “coisas do coração” quando nos referimos a sentimentos.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Rebeldia tipo exportação.[1]

 A revolução cubana triunfou em 1959, mas este é apenas um capitulo da história cubana.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
Depois de quatro séculos de dominação espanhola, Cuba havia ficado independente apenas no nome: quem regia o destino do país eram os Estados Unidos. Por meio da emenda Platt, cruiada em 1880, os EUA podiam intervir em Cuba sempre que achassem necessário, o que fazia a ilha uma espécie de protetorado norte-americano. Os Estados Unidos tinham direito de intervir na política interna de Cuba, eram o mercado consumidor de praticamente toda a produção de açúcar da ilha e suas industrias controlavam a economia. A população era miserável e muito do que consumia era importado dos Estados Unidos, com altos preços. Quando o general Fulgêncio Batista assumiu o poder, em 1952, e instaurou uma ditadura, a corrupção ficou mais evidente, e o país virou uma espécie de cassino gigante para os norte-americanos.(...)
Advogado, Fidel Castro reuniu um grupo de rebeldes para tomar o poder. A primeira tentativa ocorreu em 1953 e fracassou. Fidel foi preso e, ao ser solto, exilou-se no México, onde conheceu o médico argentino Ernesto Guevara de La Serna (apelidado Che, graças a seu sotaque). Fidel e Guevara organizaram um grupo armado que desembarcou na ilha em 1956. Eles foram quase aniquilados pelas forças de Batista. Dos 82 combatentes, sobreviveram somente 12, que se refugiaram em uma região montanhosa da ilha chamada Sierra Maestra. Dali, o grupo iniciou suas ações de guerrilha e aos poucos foi conquistando pequenas vitórias e a simpatia da população, principalmente dos camponeses. Ao fim de quase três anos de luta, Fidel e seus guerrilheiros conquistaram a capital, Havana, em janeiro de 1959.
Fidel decretou a reforma agrária e nacionalizou as empresas norte-americanas instaladas na Ilha. Os Estados Unidos reagiram com um bloqueio comercial. Cuba se aproximou da União Soviética, que passou a ajudar o país. Reformas nas áreas de educação e saúde elevaram os índices sociais de Cuba (que chegou a ter o melhor desempenho nessas áreas na América Latina). Mas a economia, enfraquecida com o fim da ajuda soviética, ainda sofre com o bloqueio dos Estados Unidos. Politicamente, há um único partido, o Partido Comunista Cubano e depois de quase meio século no poder Fidel Castro adoeceu e passou o comando para seu irmão Raúl Castro, que também participou ativamente da revolução de 1959.


Che Guevara e a exportação da revolução.
Depois de Cuba, o mundo. Che Guevara acreditava que, assim como ocorreu em Cuba, a luta armada poderia levar outras nações ao comunismo. Ao deixar o cargo de ministro em Cuba, em 1966, o argentino participou direta ao indiretamente da formação de guerrilhas no Congo, Angola e na Bolívia, onde acabou morrendo em 1967. Na Nicarágua, a luta aramada também enfrentou os norte-americanos. A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), formada nos anos 1960, conseguiu chegar ao poder nem 1979 e promoveu reformas semelhantes às cubanas. Os Estados Unidos apoiaram a formação da oposição antissandinista, os chamados Contras, e uma guerra civil eclodiu no país. O conflito terminou em 1989.


[i] Este pequeno artigo trás apenas uma abordagem superficial dos acontecimentos latino americanos referentes à Revolução Cubana. Em breve postarei livros que contenham uma maior profundidade sobre o assunto.

 Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pirâmides pelo mundo

Apesar de serem as mais famosas, as pirâmides do Egito não são as únicas no mundo.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
Quando você pensa em pirâmide, provavelmente a primeira idéias que vem à cabeça são as egípcias, como as de Quéops, Quéfren e Miquerinos. Mas pirâmides foram feitas no mundo todo: Existem também pirâmides núbias, gregas e romanas, inspiradas pelas egípcias, e também mesopotâmicas (chamadas zigurates) e até chinesas (que eram cobertas por terra e plantas formando morros geométricos).(...)
Mas as segundas pirâmides mais famosas do mundo são mesoamericanas, feitas pelos mais, astecas e outros povos. Algumas, como a pirâmide de Cholula, rivalizam com as egípcias: construídas pala cultura Teotihuacan, tinham 55 metros de altura por 400 de base, superior em volume, aos 145 metros de altura por 230 de base da pirâmide de Quéops.
Exemplo de pirâmide mesoamericana.
As pirâmides mesoamericanas eram formadas por diversos terraços, com um templo no topo, onde entre os astecas, eram feitos sacrifícios humanos. Já as pirâmides egípcias eram tumbas lacradas de faraós e eram cobertas originalmente por pedras polidas, que davam a elas um aspecto liso e brilhante, que se perdeu com o tempo.
O mais impressionante, tanto sobre as pirâmides egípcias quanto as mesoamericanas, é que os povos que as fizeram não conheciam nem instrumentos de ferro nem a roda. Quando os egípcios começaram a construir a pirâmide de Djoser, a partir de 2630 a.C, a roda ainda era novidade e a fundição de ferro ainda levaria mil anos para ser inventada. Do outro lado do mundo, o isolamento da América pré-colombiana fez com que esses povos nunca conhecessem nem ferramentas de ferro nem a roda. Em ambos os casos, as pedras tinham de ser cortadas com cunhas de madeira, cuidadosamente ajustadas ao formato desejado, e arrastadas por puro trabalho humano e rampas de terra.

Outra coisa interessante sobre as pirâmides é que as egípcias começaram mais parecidas com as mesoamericanas: a primeira pirâmide, de Djoser, é feita de terraços, que reproduziam o formato das tumbas egípcias até então - era só uma tumba em cima da outra. A pirâmide do faraó seguinte, Sneferu, já tem o formato clássico. Originalmente, uma camada de lajotas cobria as pirâmides egípcias, deixando-as com um aspecto liso e brilhante, mas essa camada se perdeu com o tempo.
Pirâmide chinesa.
Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril.

domingo, 21 de agosto de 2011

O cubo e a pedra.

A Caaba e a pedra preta são as relíquias mais importantes da religião muçulmana.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
A Caaba é o santuário máximo dos muçulmanos. Localizada na mesquita de Al-Haram, o nome significa “casa cúbica”, derivado do árabe ka’b, “cubo”, por sua vez relacionado ao grego kybos, que também é a origem do latim cubos e, daí o português cubo. Apesar do nome,  a Caaba não é perfeitamente cúbica, mas forma um prisma na base em trapézio:as medidas dos lados variam entre 11,03 e 12,70m, e a altura é de 12,1 metros. Ela é feita de tijolos irregulares de granito marrom, mas aparece sempre preta por causa da cobertura de seda e ouro, que é reposta todos os anos, após a temporada de peregrinação.(...)
De acordo com a tradição islâmica, o templo teria sido construído por Adão em pessoa, e é o primeiro edifico da humanidade. Durante a juventude do profeta Maomé, funcionava como um templo pagão – quando ele conquistou Meca, em 629, destruiu todos os ídolos do local, menos a pedra preta. De acordo com a tradição, Maomé teria afirmado que ela era branca, mas ficou negra com os pecados da humanidade. A pedra hoje em dia são pedras, presos à parede de um dos cantos da Caaba.
Cientista ocidentais e árabes estudaram fragmentos tirados da pedra pelos próprios islâmicos – a teoria mais popular, lançada pelo alemão Paul Partsch em 1857, é que ela seja um meteorito, o que confirmaria a tradição islâmica que ela caiu do céu e foi encontrada por Adão e Eva. Porém, um estudo mais recente, publicado em 1972 pelos geólogos Robert Dietz e John McHone, apontou para um origem mais mundana: ela seria feita de ágata, uma pedra vulcânica coloria muito popular em feiras de artesanato. Uma terceira teoria, lançada em 1980 por Elsebeth Thomsen, da universidade de Compenhague, afirma que ela seria uma peça de vidro natural causada pelo calor gerado no impacto de um meteorito contra a areia do deserto, e não um meteorito em si, unificando as duas teorias.
Seja qual for sua origem, a Caaba e a Pedra Preta são fundamentais na vida religiosa dos islâmicos. O prédio em si é fechado ao público, mas o que é um dos maiores pontos da vida religiosa do islâmico acontece em volta dele. Ao menos uma vez na vida, todo islâmico tem a obrigação de fazer a peregrinação a Meca, na chamada Hajj. O ritual tem várias partes, mas uma delas envolve dar sete voltas na Caaba. A cada volta, o fiel deve ao menos apontar para a Pedra Preta – alguns tentam beijá-la, mas a multidão torna isso difícil.
Aliás, dizer “multidão” não dá a idéia do que ocorre. O Hajj acontece em cinco dias por ano, do dia 8 ao 12 do mês de Dhu AL-Hijjah, o último do calendário islâmico. Como há 1,57 bilhão de islâmicos no mundo, e como todos tem a obrigação de visitar Meca pelo menos uma vez na vida, a cidade acaba sendo o mais movimentado destino “turístico” do planeta. No Hajj de 2010, 2,8 milhes de pessoas se concentraram na cidade de Meca, que normalmente tem 1,7 milhão de habitantes. Aproveitando a chance, o governo da Arábia Saudita está construindo em Meca uma torre de relógio de 601 metros de altura, que abrigará o maior hotel do mundo dentro dela, com 95 andares e 800 quartos de luxo, e um shopping center na base. A torre fica bem ao lado de uma mesquita Al-Haram e tem atraído criticas do mundo islâmico.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril.

A origem do Xadrez

O jogo viajou o mundo todo, mas seu fundamento já existia desde a primeira versão criada há  mais de 1,6 mil anos.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
A origem do xadrez remonta a um jogo indiano muito parecido chamado chaturanga. Criado durante o império Gupta (320-600 d.C), a chaturanga era jogada num tabuleiro quadriculado de 8X8, mas de uma cor só. As peças eram em mesmo número que o das do xadrez moderno, mas algumas tinham nomes, desenhos e movimentos diferentes. Os peões, o rei (ou rajá) e o cavalo tinham funções, nomes e formatos análogos. Mas o bispo era um elefante; a rainha, general; e a torre, uma biga (o que, se analisarmos bem, faz mais sentido que uma torre ambulante). Atualmente, o jogo de xadrez na Índia pode ser jogado com as mesmas regras do Ocidente, e com o tabuleiro em duas cores, mas o desenho e o nome das peças se mantêm.(...)
A chaturanga chegou não Ocidente durante a conquista da península ibérica pelos mouros islâmicos, em 711 d.C., e dali se espalhou pela Europa. Os mouros usavam a versão persa do jogo, que tinha peças e regras ligeiramente diferentes. As regras foram mudando novamente no século 15, dando um poder para a rainha e o bispo que eles não tinham na versão original. O jogo também se espalhou para o oriente tendo uma nova versão jogada por quatro pessoas.
Há uma lenda curiosa sobre a invenção da chaturanga. Quando o jogo foi inventado, o raja, fã da novidade, decidiu premiar o rapaz que o havia criado. Ele ordenou que perguntassem o que o criador do jogo, cuja família era muito pobre, queria como recompensa. Aparentando desapego, o inventor do jogo disse que não pretendia receber nada. A mera satisfação do rajá era suficiente para honrá-lo. Diante da insistência do rei, o rapaz decidiu então pedir seu pagamento em grãos de trigo. Era um pedido aparentemente modesto: um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro, dois pela segunda, quatro pela terceira, e assim dobrando até a 64ª e última casa do tabuleiro. Encantado com a simplicidade do pedido, o rei mandou que se calculasse a quantidade de grãos a ser paga.
Qual não foi sua surpresa quando informaram o resultado: 1+2+4+8+16+32+64+128+256+512 +1.024+2.048+4.096+...9.223.372.036.854.775.808, isto é, 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo (18 quintilhões e meio). Era muito mais do que toda a Índia, (e todo o mundo contemporâneo, aliás) poderia produzir. Por fim, sem poder pagar a promessa, e percebendo que o astuto rapaz estava lhe pregando ume peça, o rei nomeou o rapaz seu vizir- ou general- que é, lembremos, a segunda peça mais importante da chaturanga, análoga à rainha.
Essa lenda provavelmente é ficção de um matemático criativo, mas traz uma boa noção do poder da progressão geométrica, ou PG, que é uma forma de estabelecer uma seqüência, tendo a multiplicação como elemento constante – diferente da progressão aritmética, ou PA, cujo elemento constante é a soma.
 Fonte: Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril.

sábado, 20 de agosto de 2011

Economia de guerra.

Durante uma guerra total, como foi a II Guerra, todos os recursos econômicos são colocados a disposição da produção bélica.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
Durante uma mobilização militar total, como a Segunda Guerra Mundial, a economia de mercado é posta em hibernação. Todos os recursos são direcionados no esforço de produção de mais aviões, tanques, armas, munições e rações para os soldados. A economia, em outras palavras, se torna planificada, como as dos países comunistas. E foi assim que um matemático soviético, Leonid Kantorovich (1912-1986), facilitou o esforço de guerra americano. Kantorovich é o pai de programação linear, processo para resolver sistemas gigantescos de equações lineares geralmente envolvidos em produção e logística de massa.(...)
Na economia soviética, preços quotas de produção e alocação de trabalhadores eram determinados pelo governo. Era um trabalho de imensa complexidade, e Kantorovich começou por tentar otimizar a produção na industria madeireira. Para isso, transformou todos os dados de produção –como custo versus resultado- em sistema de equações lineares. E também desenvolveu um método para simplificar a solução dessas equações: a programação linear. Durante a guerra, ele usou seu sistema para calcular a melhor distância entre carros sobre um lago congelado, de forma a levar o maior numero de suprimentos sem quebrar o gelo. Isso salvou muitas vidas e lhe valeu uma medalha do Exército vermelho.
Quando os Estados Unidos entraram na guerra, em 1942, o governo local convocou um de seus matemáticos, George Dantizig, para refinar o sistema de Kantorovich. Entre muitos outros trabalhos, Dantizig determinou a ração dos soldados baseado em dezessete ingredientes possíveis, conforme seus valores nutricionais. Levou 120 dias para fazer os cálculos, mas a solução otimizada foi barrada por sua mulher: era muito sem graça.
A economia de mercado voltou depois da guerra no mundo ocidental, mas, com a aplicação da informática moderna, os esforços de Kantorovich, Dantizig e outros são usados ainda hoje na automação militar e em processos industriais.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A origem das leis de Murphy

Os pensamentos pessimistas da Lei de Murphy existem a mais de 60 anos e surgiram após dezenas da testes mal-sucedidos em uma base norte americana.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
Quanto mais pressa você tem, mais devagar a fila anda. Quanto mais você precisa de um celular, maior a chance de a bateria acabar. Saiu sem guarda-chuva? Pode apostar que vai chover. Todo mundo conhece a famosa Lei de Murphy: se alguma coisa pode dar errado, vai dar errado. Todos os piores cenários de azar são previstos por essa lei, que completou 60 anos em 2009.(...)
Ela surgiu em 1949, na Força Aérea dos EUA. Os engenheiros aeronáuticos haviam criado um novo teste para medir a resistência do corpo humano à força da gravidade. Um voluntário ficava amarrado a uma cadeira que era acelerada num trilho a 320 Km/h. Quando a cadeira atingia sua velocidade máxima, os engenheiros apertavam um botão e ela era freava em menos de um segundo. No primeiro teste, o voluntário saiu muito machucado. Nos meses seguintes, o teste foi repetido várias vezes, sempre com o voluntário se arrebentando.

Um sacrifício em nome da ciência. Mas um belo dia o capitão Edward Murphy jr., que estava coordenando a experiência, percebeu que os técnicos tinham cometido um erro terrível. Os sensores haviam sido ligados ao contrário, e por isso não funcionaram. Todo o sofrimento dos voluntários havia sido em vão. Foi ai que Murphy, muito irritado cunhou a famosa frase que viria a se tornar a lei universal do pessimismo.
Desde então, diversos estudos e experiências tentaram comprovar cientificamente a Lei de Murphy, com resultados contraditórios. A emissora BBC e o programa Mythbuster constataram que, na prática, o pãozinho  que cai da mesa tem a mesma chance de tocar o chão com a manteiga virada para cima ou para baixo. Logo, o seu café da manhã está salvo da Lei de Murphy.
Mas estudos feitos por economistas ingleses revelou que, no mercado financeiro, ela realmente existe: quando coloca seu dinheiro numa empresa nova, que ainda não conhece, o investidor tem mais probabilidade de perder do que de ganhar. A lei também faturou o Prêmio Ig Nobel, concedido a descobertas inusitadas. “A Lei de Murphy nos faz rir e refletir ao mesmo tempo”, diz Marc Abrahams, diretor do prêmio. “Ela ajuda a considerar o que pode dar errado,algo necessário em qualquer trabalho científico”, afirma. Ou seja, é preciso pensar no pior para evitar que ele aconteça. 

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011. Por Gisele Blanco adaptada da revista superinteressante abril/2009

Muito alarde pouca prova: Dados sobre o aquecimento global foram manipulados.

Muito se fala sobre aquecimento global, efeito estufa, derretimento de geleiras, etc. mas até hoje não foi apresentada nenhuma prova consistente e inegável de que isso realmente está acontecendo em nosso planeta.

William Cirilo Teixeira Rodrigues

Em 2007, o esforço em divulgar os perigos do aquecimento global rendeu o Prêmio Nobel da Paz ao norte-americano Al Gore e ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Dois anos depois, a descoberta de manipulação de dados sobre a temperatura do planeta pôs em xeque a validade das pesquisas do IPCC. (...)
Uma semana antes da Cúpula do Clima de Copenhague, um hacker roubou centenas de e-mails trocados por membros da Unidade de Pesquisa Climática de East Anglia, na Grã-Bretanha. (Essa instituição é uma das mais ativas do mundo na tentativa de provar que o aquecimento global é causado pelo homem.) As mensagens mostram que os cientistas tentaram esconder dados que contestavam o aquecimento e exageraram nos números sobre o aumento da temperatura. Um e-mail do diretor da unidade descreve o uso de um dispositivo matemático para “esconder o declínio” da temperatura do plante em certos pontos do século 20. Os e-mails também colocaram em dúvida o gráfico do taco de jóquei. Trata-se do gráfico que mostra a taxa de carbono na atmosfera, regular durante todo o século 20, aumentando explosivamente a partir dos anos 2000.
Gráfico do taco de jóquei; observe o exagero nas representações de  carbono na atmosfera.
Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011

Os ciclos do capitalismo

O economista soviético Nikolai Kondratiev criou a teoria de que o capitalismo sofre ciclos periódicos.
O sistema vive sequência de euforia, queda e recuperação.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
As quebras do século XIX mostraram ao mundo que, a partir da industrialização, a economia vivia uma dinâmica própria. O ciclo econômico alterna períodos de crescimento rápido (com fôlego na produção, geração de capital e prosperidade) com estagnação, declínio e recessão, mo que causa uma crise econômica.(...)
No século XX, o intervalo dessas crises se tornou mais curto à medida que mais riqueza foi sendo produzida. Ao estudar a evolução da economia do fim do século XVIII até a década de 1920, o economista russo Nikolai Kondratiev criou a hipótese de ciclos de duração determinada, que ficaram conhecidos como Ciclos de Kondratiev.
De acordo com essa teoria, as flutuações da produção e dos preços ocorreriam em “ondas largas” com intervalos de 50 e 70 anos. Nesse intervalo de tempo, acontecem quatro fenômenos distintos: prosperidade, recessão, depressão e recuperação. Hoje, muitos economistas acreditam que essas flutuações periódicas se dão em intervalo mais curto.
Kondratiev foi bastante criticado pelos comunistas, que acreditavam que o capitalismo deveria entrar em crise permanente e não cíclica. Preso por suposta traição, ele passou oito anos num gulag (campo de trabalho forçado), até ser executado por fuzilamento em 1938, aos 46 anos.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril. Adaptada da Superinteressante 16/10/2008

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Quando a bolha estoura

As crises financeiras vão e voltam como as estações do ano, sempre repetindo o mesmo roteiro.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
De uma hora para a outra, a crise bateu. A bolsa de valores, que não parava de quebras recordes de alta, despencou. Dinheiro virou coisa rara no mercado. Empréstimos minguaram e todo mundo passou a gastar menos. Aí piorou de vez: sem crédito nem clientes, empresas que até outro dia tinham seus maiores lucros na história não conseguiram mais equilibrar as contar. De cada 100 companhias, 72 fecharam as portas. E as que resistiram perderam valor no mercado.(...)
Pode até parecer uma notícia referente à mais recente crise financeira, mas tudo isso aconteceu em 1967, na Inglaterra. O governo precisou intervir para colocar rédeas no mercado financeiro depois que uma bolha de crescimento econômico estourou e deu lugar à maior crise financeira da história até então. As semelhanças entre esse mundo de 300 anos atrás e o de agora deixam claro: a última crise não tem nada de nova nem significa o fim do capitalismo. As crises de hoje são maiores porque não há mais fronteiras econômicas como no séc.XVII. Mesmo assim, seguem o roteiro de outras dezenas de bolhas econômicas que estouram ao longo da história.
O mercado moderno, com empresas controladas por milhares de acionistas, começou na Holanda, em 1602. Foi quando a Companhia das Índias Orientais, que comercializavam especiarias, dividiu sua propriedade em partes iguais e minúsculas (as ações) para financiar com mais facilidade suas empreitadas marítimas. Todo mundo dividia as despesas na hora de comprar as ações e tinham direito a uma parcela do lucro. Era um negócio de risco: ninguém sabia qual seria o lucro de uma expedição. Se os barcos demorassem para voltar do Oriente, algum acionista podia achar que eles afundaram e tentar vender sua participação na companhia antes que ela própria afundasse. Aí o jeito era vender por um preço menor que o original. Agora, quando vinha a notícia de que os barcos estavam chegando carregados, a expectativa ia lá pra cima e as ações podiam ser vendidas por um preço bem maior.
A febre das ações chegou com tudo na Inglaterra no final daquele mesmo século XVII, graças a um certo capitão de navio chamado William Phillips. Em1687, ele voltou de uma viagem com 32 toneladas de prata e baús de jóias retirados de um navio espanhol que naufragara. Isso rendeu 190 mil libras (R$ 105 milhões em valores de hoje) para dividir entre os financiados da expedição o que assegurou um retorno de 10.000%. Inspirados no sucesso dessa empreitada, surgiram dezenas de projetos de caça ao tesouro que lançaram ações no mundo. O dinheiro rolou solto durante a fase do entusiasmo, mas logo se chegou à conclusão de que não havia tantos tesouros assim no mar. As ações das expedições despencaram, contrariando a expectativa  exageradamente otimista de que subiriam para sempre. Quando veio a queda, o resto também desmoronou. Muita gente ficou sem dinheiro para pagar dívidas e credores levaram calote.
Apesar do baque, contudo, a euforia do séc. XVII serviu para construir o mundo a que você está acostumado. Graças ao “cassino” das ações, a Companhia das Índias pôde financiar e inventar o comércio global. A especulação ajudou a bancar também a Revolução Industrial, para citar outro momento crucial da história. De crise em crise, a história continua a ser escrita.
Os passos de toda crise.
1. Olha a onda: Novas oportunidades de investimento (internet, imóveis, etc) criam chance de lucros cada vez maiores no mercado.
2. Euforia: Quanto mais lucro se espera, mais ações sobem. Investidores novatos entram no negócio.
3. Fase maníaca: Companhias novas lançam ações para aproveitar a euforia. Pessoas e empresas fazem fortunas da noite para o dia. O crédito é facilitado.
4. Estouro da bolha: As expectativas de lucro não viram realidade. Investidores fogem. Bancos tomam calote. O crédito some, a economia trava. E vem a crise.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril. Adaptada da Superinteressante 16/10/2008

Miscigenação não explica tudo


O texto mostra como a percepção racial do brasileiro mudou no decorrer do tempo.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
Nos anos 1930, o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre revolucionou o pensamento brasileiro ao defender radicalmente a miscigenação. Freyre, cuja a formação ocorreu em grande parte nos EUA, comparou a situação racial tensa desse país com o que enxergava como relativa paz no Brasil. Para Freyre,a imensa miscigenação do Brasil, que atingia também os imigrantes europeus recentes, era a prova de que o país não era racista como os EUA – éramos, enfim, uma “democracia racial”, em que ninguém se achava mais puro que ninguém.(...)
A idéia de democracia racial pegou, e por claros motivos – afinal, ela estabeleceu o orgulho nacional e mostrava um ponto em que o Brasil era superior à Europa e aos Estados Unidos. Mas os números e a realidade dizem que há algo fora do lugar nesse suposto paraíso racial: segundo uma pesquisa do IBGE publicada em 2010, famílias chefiadas por pessoas brancas consomem 89% a mais do que famílias negras e 79% a mais do que pardas. Comerciais, novelas e séries de TV apresentam uma clara desproporção de brancos em relação à realidade da população.
Desde os anos 1970, o movimento negro brasileiro busca desconstruir essa idéia de democracia racial. Ainda que a miscigenação seja inegável, ela não apagou a idéia de que “branco e melhor”. Se há um degradê de cores no Brasil, há uma preferência clara para uma ponta desse espectro. O racismo brasileiro é diferente do norte-americano (nos Estados Unidos, existiam leis de segregação racial até os anos 1960), mas nem por isso é algo menor ou menos nocivo.
Nem todos os militantes negros concordam na questão de cotas para universidades, mas há uma tendência geral de valorizar a parte africana da cultura brasileira e a identidade negra. Desde 2003, a cultura afro-brasileira tornou-se obrigatória no currículo escolar, e o programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), em processo de aprovação, prevê a obrigatoriedade de uma proporção realista de pardos e negros na televisão.
Interessa também ao movimento negro a questão dos quilombolas, comunidades rurais remanescentes de escravos fugidos. Os quilombolas são cristãos e falam português, mas mantêm várias tradições de uma cultura africana antiga, ameaçada de desaparecer por êxodo rural e influencia cultural, principalmente pela televisão. A demarcação de terras quilombolas provoca certa polêmica, porque isso às vezes afeta as propriedades rurais.
Em 2008, o IBGE anunciou que 50,6% da população brasileira se identifica como parda ou negra – pela primeira vez, a maioria não se declarava como branca. Em parte, isso pode ser explicado pro questões demográficas – a população de menor renda, majoritariamente parda ou negra, tem mais filhos que a classe média e alta. Mas também é um indício da mudança de percepção racial no Brasil.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Estátua da discórdia

Monumento à Renascença africana causa polêmica no Senegal.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
É uma família forte, como se vê na foto da página ao lado: um homem à frente, com uma mulher em pose altiva atrás e uma criança no braço, apontando para a frente, ou melhor, para o futuro. Com quase 50 metros de altura, 19 metros a mais do que o Cristo Redentor, a escultura fica numa colina com cerca de 100 metros de altura, o que torna sua visibilidade ainda maior. O monumento foi erguido em Dakar, no Senegal, e teve uma inauguração com pompa proporcional ao seu tamanho no dia 4 de março de 2010 data em que se celebrou o 50º aniversário da independência do Senegal.(...)
O barulho que a obra provocou também tem a proporção de sua imponência. O custo de 27 milhões já causaria espanto em qualquer lugar do mundo. Mas, sendo este lugar o Senegal, país onde 54%  da população vive abaixo da linha da pobreza, o uso do dinheiro público causou protestos e indignação. Além do dinheiro, as imagens desagradaram os chefes religiosos do país, onde 95% da população é islâmica e achou imoral as formas seminuas das figuras. O presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, disse que a polêmica não se justificava, já que o monumento senegalês se parecia com as diversas imagens de Jesus Cristo pelo mundo – o que por sua vez enfureceu os cristãos.
Polêmicas estéticas e religiosas à parte, o monumento africano gerou ainda mais discórdia pelo lucro que está dando ao presidente Wade. Como o político se declarou “mentor intelectual” da obra – e em seguida encomendou sua execução na Coréia do Norte -, ele cobra 35% do lucro da visitação ao monumento. O dinheiro continuará caindo na sua conta mesmo depois que ele deixar a presidência, em 2012, dez anos depois de ser eleito democraticamente. Wade não vê mal nenhum em cobrar pelos “direitos autorais” de sua obra construída com dinheiro público . Um aliado disse: “Os senegaleses terão tanto orgulho do projeto como os gregos de Atenas quando Péricles construiu a Acrópole”. Para o presidente-artista, a grandeza de seu trabalho será eternal não apenas para os senegaleses, mas para todo o continente. “Ela trará vida a nosso destino comum. A África chegou ao século 21 de cabeça erguida e está mais pronta do que nunca para tomar seu destino em suas mãos”.

Matéria retirada da revista: curso preparatório Enem 2011 ed abril.                                                                                                              

Quando Paris foi tomada pelos estudantes.

Há mais de 40 anos, jovens ergueram barricadas nas ruas, enfrentaram a polícia e transformaram aquele momento em sinônimo de liberdade.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
A rebelião que envolveu milhares de jovens franceses ficou conhecida como maio de 1968. Há mais de 40anos, os universitários ergueram dezenas de barricadas com pedras arrancadas do calçamento e enfrentaram um exército de policiais nas ruas de Paris. Seus slogans ganharam os muros: “A imaginação no poder”, “Os sonhos são realidade”, “A política se faz na rua”.(...)
Os rebeldes se igualavam a outros em todo o globo, no cenário da Guerra Fria. Em 1968, nos Estados Unidos, jovens protestavam contra a Guerra do Vietnã, enquanto negros exigiam direitos civis. Crescia o movimento feminista no mundo, e a mulher ocupava um novo lugar na sociedade. Atrás do muro de Berlim, na Tchecoslováquia, florescia a Primavera de Praga, por liberdade e democracia. Era a época do Rock, dos hippies, da liberdade sexual graças aos anticoncepcionais. Pela primeira vez, a TV trazia todos os fatos para a sala de estar.
Os protestos em Paris tiveram como fagulha a decisão da Universidade de Paris de punir o líder estudantil Daniel Cohn-Bendit, que recebeu ordens para comparecer a uma junta disciplinar na Universidade de Sorbonne. Uma multidão deslocou-se para lá. O reitor pediu à polícia que entrasse na universidade e prendesse os alunos, fato sem precedentes na França. Cerca de 600 estudantes foram presos, e a Sorbonne, fechada, pela primeira vez em 700 anos de existência.
Dali a uma semana, em 6 de maio, mil estudantes acompanharam Cohn-Bendit à junta. Foram atacados pela polícia e revidaram, arrancando pedras do calçamento, atirando nos policiais e construindo barricadas, que se espalharam. Milhares de jovens se juntaram aos combates, que prosseguiram por semanas. Os moradores ofereciam comida aos estudantes.
Em 13 de maio, os sindicalistas convocaram uma greve geral, e a França parou. Em resposta, o governo do general Charles de Gaulle de aumento salarial e beneficio aos trabalhadores, fazendo o movimento refluir. Aos poucos, os confrontos foram acabando. Cohn-Bendit, de origem alemã foi deportado. Havia a ilusão de que tudo voltara ao normal, mas o governo De Gaulle estava ferido de morte. Um ano depois, o general renunciaria.
De Gaulle decidiu prevenir-se contra outros levantes. As ruas próximas à Sorbonne receberam uma camada de asfalto. As barricadas de Paris estavam sepultadas.

Fonte:Matéria retirada da revista Atualidades Vestibular, editora Abril, 1º semestre de 2008

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O que é o Estado e quais as diferenças entre Estado e Nação por João Ubaldo Ribeiro

A Rússia é um ótimo exemplo de como várias nações podem viver em um único Estado.
3.O Estado.
(P. 35) Todas as sociedades, mesmo as mais primitivas, são de alguma forma politicamente organizada. Ou seja, em toda sociedade há mecanismos estabelecidos, através dos quais as decisões públicas são formuladas e efetivadas. Toda coletividade tem alguma espécie de “governo”, embora a estrutura e o funcionamento desses governos variem muito. Uma coletividade sem organização política não seria humana.
Só a constatação de que há sempre um governo não basta para pensarmos adequadamente sobre a questão. (P. 36) Talvez o caminho mais fácil seja utilizarmos um pouco de imaginação histórica.
Suponhamos uma sociedade primitiva dos primórdios da História. Chamaremos essa sociedade de Ugh-Ugh [1]. Nos primeiros tempos de Ugh-Ugh, os homens não se distinguiam muito dos animais, pois sua tecnologia era precária. Contudo, a inteligência, a fala e o uso das mãos já distinguiam os Ugh-Ugh dos outros grupos. (...)
Podemos presumir que os primeiros líderes dos Ugh-Ugh eram os mais fortes, que podiam impor sua vontade sobre os mais fracos. Apesar disso, mesmo os mais fortes não podem enfrentar todos os outros membros em conjunto, o que aconteceu foi que os mais fortes trocavam seus privilégios por alguma serventia a comunidade: liderando o combate contra inimigos, tomando a frente das caçadas, etc.
(P. 37) Mas com o desenvolvimento tecnológico, ser apenas o mais forte já não bastava. Por exemplo, um ugh-ughiano de inteligência e habilidade inventou a primeira arma (uma lança ou um machado de pedra), é evidente que a força física já é contrabalanceada. A arma além de introduzir a noção espacial torna o braço mais longo, fato incompreensível para os animais selvagens e ameaçador para o próprio homem. O controle da tecnologia passou a desempenhar papel fundamental nas decisões coletivas. Quem tinha machado ou lança tinha o poder.
Outros avanços tecnológicos nas áreas de produção de alimentos e agasalhos também introduziram novidades em Ugh-Ugh. Se no começo eles dependiam da coleta das frutas selvagens ou da caça, agora eles aprenderam a agricultura e o pastoreio.
(P. 38) O início do cultivo intencional e organizado de plantas comestíveis e do pastoreio de animais são avanços importantíssimos. A coletividade se torna mais forte, mais apta a resistir a crises naturais, ao crescimento populacional, etc. O poder não vem só das armas e pode estar muito mais concentrado naqueles que detêm a tecnologia do cultivo e do pastoreio.
(P. 39) Com o tempo, os avanços tecnológicos vão gerar o que se costuma chamar de divisão social do trabalho. Enquanto no início os ugh-ughianos se limitavam a caçar e coletar provavelmente o trabalho era coletivo e a propriedade era de todos. Com o cultivo e o pastoreio a divisão iniciou-se, sendo acelerada pelo desenvolvimento tecnológico.
É necessário que se colha o trigo, que se selecione, que se faça farinha, que faça o pão. Todas essas atividades, gradualmente são distribuídas por diversos setores, bem como o pastoreio.
(P. 40) Esse processo de divisão social do trabalho introduz diversos conflitos de interesse na coletividade antes tão simples. Assim, para o agricultor o campo é lugar de semear; para o criador de gado, um lugar para transformar em pastagem. Quem conseguiu, pela força, um pedaço de terra poderá explorar o trabalho alheio de quem não conseguiu. Quem produzir trigo poderá trocar por carne e vice-versa e o valor relativo dos bens, agora transformados em mercadorias, será certamente arbitrado em processo que envolverá conflitos. Assim o interesse de cada um passa a não ser, como antes, o interesse de todos. Acrescente a isso a possibilidade de acumulação de excedentes, isto é, de bens em quantidade superior a indispensável para o consumo de seu produtor, o que irá marcar o perfil socioeconômico de Ugh-Ugh, tais como a acumulação individual de riqueza e o desenvolvimento do comércio.
(P. 41) Os conflitos de interesse causam tensão. A tensão só pode ser resolvida através da solução do conflito. Os conflitos de interesse só se resolvem no confronto e com a vitória do que dispõe de instrumentos mais eficazes.
Vamos imaginar que neste conflito os pastores e os agricultores entrassem em guerra civil que terminasse com a vitória dos pastores. Imediatamente, os pastores se organizariam para manter sua hegemonia e seus líderes seriam os líderes de toda a coletividade. Com o tempo, os costumes e os valores tenderiam a enobrecer atividades relacionadas com o pastoreio. Agricultores não poderiam tornarem-se nobres, sendo a eles proibido cavalgar por exemplo. A religião poderia se desenvolver em torno de mitos adequados a visão de mundo dos pastores.
(P. 42) Com a vitória, os pastores de Ugh-Ugh, resolveram o conflito básico de sua sociedade e, pelo menos por enquanto tem controle das decisões públicas. Com o passar do tempo, esta situação pode não permanecer. Então, a tendência do vitorioso é criar todo tipo de mecanismo para se estabilizar no poder. E desta maneira diferenciar os governantes dos governados por meio da institucionalização.
Não é complicado entender o que é institucionalização. Vamos supor que depois da vitória, um dos pastores se haja tornado chefe e, durante a sua vida, tenha gradualmente assumido uma série de responsabilidades e tarefas importantes para seu povo. Com a morte deste, ocorre a indicação de outro líder para assumir o legado político do falecido.
(P. 43) Ou seja, existe um papel social e político a ser cumprido independente da pessoa que o desempenha. A organização só se manterá se houver mais do que o chefe: se houver a chefia. No momento em que a chefia passa a existir ela se institucionaliza. Com a institucionalização surgem os processos de sucessão e inúmeras instituições paralelas ou corolárias.
A esse conjunto de instituições dá se o nome de Estado. Que nasce em dois passos: a) o estabelecimento da diferença entre governantes e governados; b) a institucionalização dessa diferença. Onde quer que existam essas condições existirá um Estado, quer ele tenha presidente, rei ou chefe, leis escritas ou não, três poderes ou não e assim por diante.
As instituições são compreendidas em um arcabouço chamado ordem jurídica, ou seja, um conjunto de normas de aplicabilidade geral, que regem o funcionamento da coletividade. Em Ugh-Ugh, mesmo muito tempo depois do estabelecimento de um Estado complexo, é bem possível que as normas jurídicas, o que hoje chamamos leis, fossem não escritas e misturadas com normas religiosas, morais e outras. (P. 44) Isto ainda existe hoje em dia, mas o comum é que a ordem jurídica seja mais ou menos distinta da religião e da moral.
Resumindo, com o surgimento de atividades e o fim da coletividade, houve diversos conflitos de interesses entre grupos. Esses conflitos são resolvidos com o domínio de um grupo sobre o outro estabelecendo a diferenciação entre governantes e governados. Essa diferenciação é institucionalizada criando-se a ordem jurídica. Assim forma-se o Estado. Que existe em toda sociedade política e juridicamente organizada, muitas vezes confundindo-se com a sociedade.
4.Estado e Nação.
(P. 49) A palavra “Estado” tem utilização confusa, especialmente para os brasileiros, por causa da forma do Estado brasileiro, que é a federação, dividida entre a União (governo federal) e os Estados. Então quando se fala em Estado o brasileiro pensa em São Paulo, Minas Gerais, Bahia, etc. O termo Estado usado neste sentido deveria ser mudado para “Estado- membro”, porque todos eles fazem parte do Estado brasileiro.
Na linguagem corrente, é comum que se usem como sinônimos as palavras “Estado”, “Nação”, “País” etc.
(P. 50) É preciso que esses termos sejam distintos, para que não caiamos numa confusão. Em muitas situações os termos são sinônimos em outras não. Sendo fundamental distinguir principalmente as palavras Estado e Nação.
Hoje a maioria dos países é classificado como um “Estado-Nacional”. Mas podemos dizer que talvez a maioria dos países são na verdade Estados não-nacionais. Pois, há Estados com várias nações e há nações com vários Estados. O Estado já sabemos o que é. A nação pode encaixar-se completa e exclusivamente dentro de um Estado, mas também pode não se encaixar.
A nação quer dizer muitas vezes uma raça comum, uma língua comum, uma história comum, tradições, valores e hábitos comuns. Que os identifique com um grupo.
Existem grupos que moram distantes e se sentem membros de uma nação como cearenses e gaúchos. (P. 51) E outros que vivem muito perto e não se sintam de uma mesma nação como os bascos e os castelhanos. Os bascos que vivem na fronteira entre Espanha e França não se sentem pertencentes a nenhum dos dois Estados.
Para os brasileiros isso é difícil de entender. Pois, o Brasil é um caso raríssimo onde Estado coincide com nação. Então para um brasileiro desavisado russo é russo, quando na verdade russo é apenas uma das várias nações que compõe a Rússia. Outro exemplo é o Canadá um Estado binacional.
Há também nações politicamente divididas como a Alemanha [2], dividida entre ocidental e oriental.
(P. 52) Muitas nações europeias só se constituíram em Estado recentemente, até bastante depois do Brasil. Como a Itália e a Alemanha.
Estados como a Iugoslávia e a Tchecoslováquia [3] são na verdade a junção de várias nações muito individualizadas, como sérvios, croatas, montenegrinos, tchecos, eslovacos, macedônios, eslovenos e assim por diante.
Os diversos grupos independentes de índios brasileiros, embora em número muito reduzido para classificar o Brasil como uma Estado multinacional, são nações submetidas ao poder centralizador do Estado brasileiro.
(P. 53) Nem a nação nem o Estado necessitam de um território fixo e delimitado. A nação cigana se espalhou por todo o mundo sem perder sua identidade. Da mesma forma indivíduos dispersos por muitos países podem considerem-se cidadãos de um mesmo Estado. Como aconteceu na II Guerra quando a resistência francesa se fez em outros países.
Essas coisas são muito importantes de se ter na mente quando tentamos compreender os problemas dos índios brasileiros, dos palestinos, dos bascos, etc. São também noções indispensáveis para se compreender a história dos povos, pois do contrário grande parte dela perderá o sentido.
Os palestinos são um exemplo de nação sem Estado.
Assim, por exemplo, a Guerra dos cem anos é tida sempre como uma guerra entre a Inglaterra e a França no séc. XIV. Mas como se nem a França, nem a Inglaterra existiam como as conhecemos hoje, ou seja, não existiam os Estados francês nem inglês. (P. 54) Não sendo assim uma guerra entre Estados, mas crises internas dentro da classe dominante da época, que vivia um momento de declínio do feudalismo e de início da afirmação do poder do rei (primórdios do surgimento do Estado nacional). Se ignorarmos estes fatos, nossa visão dos acontecimentos se perde em tolices.

[1] Esse é um exercício de “imaginação histórica” e não pode ser compreendido de maneira literal. Essa simplificação é um resumo de processos que se desenrolaram durante milênios.
[2] Não se esqueça de que o livro foi escrito em 1981.
[3] Estes dois Estados não existem mais justamente por isso.
Bibliografia:

RIBEIRO; João Ubaldo: “Política: quem manda, por que manda, como manda” - 1981.pág 35-54